REFERÊNCIA Cabelos alinhados, pérolas, luvas brancas, saias rodadas. A marca de Grace

Estrelas de cinema da década de 50 eram referência de beleza e estilo para as simples mortais que assistiam a seus filmes. Mas entre as divas da época houve uma que se tornou exemplo mundial do que toda garota gostaria de ser. A atriz Grace Kelly ficou conhecida como um símbolo de perfeição e ícone de elegância. E provou que era possível alcançar o mais dourado dos sonhos – se casar com um príncipe de verdade. O dela foi Rainier III, de Mônaco.

Para homenagear a memória da diva, morta há 25 anos num acidente de carro, foi aberta a exposição Os anos de Grace Kelly – princesa de Mônaco, que ficará em exibição na Prefeitura de Paris até 16 de agosto. Apresentada no Fórum Grimaldi, em Monte Carlo, no ano passado, ela atraiu 135 mil visitantes. O êxito deve se repetir na capital francesa, primeira etapa internacional da exposição. A mostra é dividida em diferentes espaços, como "Filadélfia", que conta passagens da vida familiar de Grace no lugar em que nasceu e viveu até os 18 anos. A sala "Hollywood" é dedicada à consagrada trajetória de atriz de cinema. Há um local especial que destaca o trabalho com o diretor Alfred Hitchcock nos filmes Disque M para matar (1954), Janela indiscreta (1954) e Ladrão de casaca (1955).

Na exposição também podem ser conferidas cartas que ela trocou com amigos tão famosos quanto ela, como a ex-primeira-dama americana Jacqueline Kennedy Onassis, a cantora Maria Callas e o ator Cary Grant. Além de roteiros, documentos pessoais e a estatueta do Oscar de melhor atriz pelo filme Amar é sofrer (1955).

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Mas o que enche os olhos do público é a coleção de jóias e os 60 vestidos de alta-costura, 15 deles assinados pelo estilista espanhol Cristóbal Balenciaga. Entre as peças que entraram na moda graças à princesa estão as luvas brancas, as echarpes de seda (que ela usava também como turbantes) e a lendária bolsa "Kelly". Confeccionada em couro de crocodilo, a bolsa da maison Hermès se transformou num símbolo da marca e é objeto de desejo de mulheres do mundo inteiro até hoje – ao preço médio de R$ 40 mil. "Ela deu uma elegância única a Mônaco, caracterizada pela discrição, pelo serviço à cultura e espírito de solidariedade", disse o prefeito de Paris, Bertrand Delanoë, na abertura da exposição.

Tornar-se princesa não fez de Grace uma mulher elegante. Essa era uma característica inata, que ela trazia desde os tempos de menina. Milionária, ela circulava com sua família na alta roda dos aristocratas da costa leste dos Estados Unidos. O estilo clássico vinha, em parte, da educação rígida, que primava pela perfeição em tudo. Inclusive na aparência. Na biografia Grace, o autor, Robert Lacey, afirma que ela cresceu dentro de uma família controladora, na qual o lema era "mantenha as aparências e impressione sempre".
 

"Grace era de fato uma princesa antes mesmo de casar com um príncipe, com todos os requisitos para o título. Sua elegância estava presente na personalidade, no gestual e na postura física. E isso permitia que qualquer roupa lhe caísse bem", diz Valéria Brandini, professora do laboratório de tendências do Instituto Europeo di Design (IED), em São Paulo.

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NÚPCIAS Rainier e Grace na cerimônia religiosa que atraiu atenções do mundo inteiro

Quando deu início à bem-sucedida carreira de atriz de cinema, o estilo clássico da beldade loira ficou em evidência. Conjuntos de blusas com casaquetos, saias rodadas e óculos de sol oversize viraram moda (foi ela, não Jackie O, que lançou a tendência dos maxi solares). Grace tornou-se uma das mulheres mais copiadas. Moças de todo o mundo imaginavam que, uma vez vestidas como ela, teriam algo de sua impressionante beleza. O que não era fácil. O rosto perfeito, o corpo magro e os cabelos sedosos penteados com cuidado formavam um conjunto único – e renderam à atriz e princesa uma vasta quantidade de casos amorosos. "Ela se apaixonava loucamente por seus companheiros de cena", afirma o professor de história do cinema Máximo Barro, da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo. Entre os amores estão os atores Ray Milland, Gary Cooper, Clark Gable e Bing Crosby.

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COMPANHEIRAS Com Stéphanie, meses antes do trágico acidente. Elas estavam juntas no carro

O príncipe Rainier entrou na vida da atriz em 1955, durante uma reportagem organizada pela revista Paris Match no Palácio de Mônaco. Grace participava do Festival de Cinema, em Cannes, e fazia uma visita ao principado. Eles passaram a se corresponder por cartas até que o príncipe a visitou nos Estados Unidos e conheceu seus pais. O casamento aconteceu em 18 de abril de 1956 e foi um dos mais comentados do século passado. A imprensa do mundo todo se deslocou para Mônaco. O vestido de noiva guarda uma história especial, afirma a escritora H. Kristina Haugland, autora do livro Grace Kelly – icon of style to royal bride. Ele foi um presente da MGM. A figurinista do estúdio, Helen Rose, desenhou a peça em seda pura e renda valenciana. "Foram necessárias 35 costureiras para confeccioná-lo em seis semanas. O estúdio manteve o vestido fechado a sete chaves até o grande dia", diz H. Kristina, que também é curadora do Museu de Artes da Filadélfia, a quem pertence a peça (na exposição há uma réplica). Grace doou a roupa no dia seguinte ao casamento para o museu de sua terra natal. Ao mesmo tempo, noivas de todo o mundo copiavam o modelo.

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MOMENTOS O príncipe Albert recém-nascido no colo de Grace. Com Bing Crosby e Frank Sinatra

no filme Alta sociedade. A princesa com o marido e os filhos, em 1966

O glamour presente na exposição leva a crer que a vida de Grace Kelly foi impecável. Não é verdade. A carreira foi abandonada para viver o papel de princesa. "Não convinha ao principado que a monarca continuasse trabalhando em filmes, um meio em que era necessário mostrar sensualidade. Nos dias de hoje, uma história como a do presidente da França, Nicolas Sarkozy, e a cantora Carla Bruni cria fofocas, confusões. Mas na época de Grace qualquer deslize arranharia a monarquia", diz o professor de história do audiovisual Eduardo Morettin, da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP).

Em família, houve muitos altos e baixos. Ela teve três filhos – Albert, Caroline e Stéphanie. Grace era adorada pelo rapaz, mas as meninas a destratavam com freqüência. O casamento com Rainier, que começou apaixonado e repleto de admiração mútua, teria se deteriorado com os anos. Até o acidente fatal. Em 13 de setembro de 1982, a princesa, aos 52 anos, perdeu o controle na direção de seu Rover marrom. Voltava com a caçula, Stéphanie – então com 17 anos -, de Roc Angel, casa de fim de semana da família real, os Grimaldi. O carro despencou em um penhasco depois de uma curva na encosta da montanha. Stéphanie sobreviveu. Grace não. O acidente chocou o mundo e colocou Grace no patamar das divas eternas.

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A família continuou sob os holofotes mesmo após a morte da princesa. Rainier III morreu em abril de 2005 e Albert assumiu o trono. Caroline está à frente da Fundação Princesa Grace. Quem tem chamado a atenção são seus filhos. Charlotte, pela beleza comparável à da avó estrela de cinema. Andrea e Pierre pelo charme e pela quantidade de bebida alcoólica que ingerem em farras constantes. A princesa Stéphanie, depois de se envolver em alguns escândalos nas décadas de 80 e 90, anda sumida, vivendo com os filhos e mais distante dos irmãos.