19/02/2010 - 21:00
A bola ainda não rolou nos gramados sul-africanos, mas existe uma competição sendo travada pelas seleções desde o final do ano passado, quando as equipes começaram a revelar os uniformes com os quais disputarão a Copa do Mundo, de 11 de junho a 11 de julho deste ano. Na semana passada, a Inglaterra entrou em campo neste jogo. E, com a divulgação do seu uniforme de número 2 (para jogos fora de casa), o time da rainha mostrou-se soberano ao aliar tecnologia, estilo e estratégia.
Para começar, a Umbro, que vestirá o time inglês com exclusividade, contratou um alfaiate que tirou as medidas dos atletas e customizou uma camisa para cada um. “Os ingleses se preocupam com a elegância com que os jogadores entrarão em campo”, diz Sylvio Teixeira, diretor-geral da Umbro Brasil. “A nova camisa tem o melhor caimento de todas que já vesti. Além disso, o resultado é muito elegante”, avaliou David James, o goleiro da seleção.
Os ingleses, porém, não pararam por aí. Aproveitando-se do fato de divulgarem a camisa para partidas longe de seus domínios, surpreenderam ao organizar um lançamento na terra de seu rival histórico, a França. A estratégia original correu o mundo. E não teria como ser diferente: é como se o Brasil lançasse seu uniforme em um evento na Argentina. A honraria coube ao cantor Tom Meighan, vocalista da banda de rock inglês Kasabian, que subiu ao palco do Teatro Olympia, em Paris, envergando o manto vermelho da seleção. As vaias que se seguiram já eram esperadas e, claro, faziam parte do marketing.
O Brasil, que irá lançar o uniforme canarinho junto com outras seleções patrocinadas pela Nike, na quinta-feira 25, em um evento da marca, em Londres, não fica muito atrás. Foi a única entre as oito seleções da fornecedora de material esportivo norte-americana que teve carta branca para apresentar antecipadamente o conjunto 2, no caso, de cor azul. O atacante Robinho desfilou o novo uniforme durante o Carnaval do Rio de Janeiro, em um camarote na Marquês de Sapucaí.
Além de modificações estéticas – como na gola, agora redonda –, ficou evidente uma inovação que pretende manter fresco o corpo dos jogadores: furos feitos a laser nas laterais. No entanto, reforça Mario Andrada, diretor de comunicação da América Latina da Nike, camisa não ganha jogo. “É o atleta que vence. Mas ele não pode, durante a partida, se preocupar com uma gola que o aperta, por exemplo.” As zonas de ventilação, bem como a ausência de costuras, não são capazes de vencer a decepção do desenhista e escritor gaúcho Aldyr Schlee, que ostenta o troféu de criador do uniforme verde e amarelo da Seleção em 1953. “Vejo o azul e o amarelo do segundo uniforme da Seleção e me pergunto: cadê o verde?”, reclama, aos 75 anos. “Esse modelo não simboliza a nacionalidade porque fere a combinação das quatro cores da bandeira brasileira.”
No negócio chamado futebol, porém, a nostalgia não supera a ótica do desempenho, que norteia os lançamentos. Qual será a reação de um alemão de perfil conservador ao ver os jogadores da sua seleção vestindo camisas coladas no corpo, conforme optou a Adidas? Patrocinadora de 12 times, a empresa alemã colocou no mercado um modelo feito com um sistema de compressão chamado Techfit. Essa tecnologia é uma combinação de poliuretano e plásticos flexíveis, introduzida no esporte em 1998 pelo nadador australiano Ian Thorpe. Segundo a marca, correr atrás da bola com tal vestimenta agarrada ao corpo como um elástico reduz a vibração muscular e a fadiga, além de melhorar a postura.
Dissidente da Adidas, a Puma, que irá vestir sete seleções (a maioria africanas), também entrará em campo com modelos justos. A diferença entre as duas fabricantes alemãs é que a Adidas não quer os craques como reféns desse estilo. “O atleta terá duas opções de camisas oficiais”, diz Daniel Schmid, gerente de futebol da Adidas. “Nossa outra peça tem um formato tradicional, que garante liberdade e conforto durante os movimentos.” Alfaiate, cortes a laser, camisas justas e folgadas… É a eterna disputa entre o romantismo e a modernidade que permeia o esporte mais popular do planeta.
