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PODER SEM CARA
Também acusado de corrupção, o vice Paulo Octávio anuncia que fica no cargo: até quando?

Brasília mergulhou, há uma semana, na pior crise institucional dos seus 50 anos de história. Com o governador José Roberto Arruda preso, e seu vice Paulo Octávio sob ameaça de impeachment, a capital da República, que nasceu de linhas exatas traçadas por Lucio Costa e Oscar Niemeyer, vive dias de incerteza. A população já começa a sentir os efeitos do vácuo de poder, com a paralisação de obras e a falta de medicamentos em hospitais (leia quadro na pág. 38). Na manhã da quinta-feira 18, ao completar sete dias detido na sede da Polícia Federal sob acusação de obstruir o inquérito do Mensalão do DEM, Arruda se dizia deprimido. “Me tirem daqui, quero sair o mais rápido possível”, implorava aos seus advogados. No mesmo momento, Paulo Octávio, abandonado pelo DEM, pedia ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva apoio para manter-se no cargo e evitar a intervenção no Distrito Federal. Saiu da audiência de mãos vazias. “É preciso esperar o que a Justiça vai dizer. De nossa parte, vamos manter os investimentos para que as obras do PAC não parem”, disse o presidente, sem se comprometer. Àquela altura, Lula já sabia que os agentes da Operação Caixa de Pandora finalizavam um novo pedido de busca e apreensão. O alvo desta vez será uma casa do luxuoso bairro do Lago Sul, onde a Polícia Federal (PF) acredita que os operadores de Paulo Octávio, também conhecido como P.O., guardam dinheiro e documentos que o relacionam ao esquema de pagamento de parlamentares.

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PRESO
Na PF, Arruda implora: “Me tirem daqui”

Encurralado pela PF e isolado politicamente (leia quadro abaixo), P.O. chegou a redigir uma carta-renúncia, mas, minutos antes de uma entrevista coletiva na tarde da quinta-feira, adiou a decisão. “Apesar de ter minha carta de renúncia pronta e entregue à líder do meu partido, Eliana Pedrosa (deputada distrital), eu aguardarei alguns dias”, disse o vice. Ele afirmou que ficava no cargo por recomendação de Lula, mas logo em seguida o Planalto negou e P.O. teve de admitir que se pronunciara de improviso. Sua tentativa de fazer crer que tinha o apoio de Lula irritou até o pacato chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho. Quem convenceu de última hora P.O. a não renunciar foi a deputada Eliana, irmã do empresário Eduardo Pedrosa, envolvido com a máfia dos vampiros, que desviou R$ 2 bilhões do Ministério da Saúde. Ela também tem contratos com o GDF. A renúncia de P.O. era tão certa que o secretário de Transportes, Alberto Fraga, flagrado, no ano passado, usando dinheiro da Câmara dos Deputados para pagar sua empregada, nem foi à entrevista coletiva. Mas respirou aliviado por não perder a chave do cofre: “Vou dizer à Executiva do DEM que tenho uma secretaria com R$ 2 bilhões”, comemorou. Pouco antes, o terceiro nome na linha de sucessão, o presidente da Câmara, Wilson Lima (PR), anunciava,  sorridente, seus planos: “Vou pedir auditoria em todos os contratos do GDF.” Assim que assumiu o governo, P.O. foi surpreendido com a aprovação de três pedidos de impeachment na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Há mais dois a serem apreciados. Foi uma forma que a Câmara Distrital encontrou para marcar posição e evitar a degola da intervenção federal. Pela lógica parlamentar, aprovar o impeachment de Arruda e Paulo Octávio é uma rápida resposta ao Supremo Tribunal Federal (STF), que vai julgar a intervenção esta semana. Na cidade, já circulam versões de que o interventor seria o ex-deputado petista Sigmaringa Seixas, amigo do presidente Lula.

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PRIMEIRA-DAMA
Flávia leva o almoço do marido na prisão

Outra opção seria o ministro da Defesa, Nelson Jobim. Enquanto isso, a acefalia toma conta da máquina pública. P.O. despacha de forma improvisada numa sala do Palácio Buriti, que foi trocado por Arruda pela sede administrativa na cidade-satélite de Taguatinga. Restamlhe poucos secretários e a situação pode piorar com o ultimato do DEM para que seus filiados abandonem o governo. O mesão de executivos adotado por Arruda, nos moldes de instituições financeiras, está deserto. No STF, a intervenção ainda é uma hipótese remota. “Não há clima para isso”, diz um dos assessores do ministro do Supremo. O pedido da Procuradoria- Geral da República será apreciado nos próximos dias pelo presidente do STF, Gilmar Mendes. Internamente, comenta-se que o pedido é frágil, ao afirmar que a linha sucessória do GDF está toda contaminada. Além disso, mesmo que seja aprovada por Mendes, a intervenção tem de ser referendada pelo plenário do STF, pelo presidente Lula e pelo Congresso. “Hoje no DF temos os poderes Executivo e Legislativo incapacitados de exercer suas funções. Soluções mágicas não vão afastar a hipótese de intervenção”, insiste o procurador-geral Roberto Gurgel.

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Para o ministro Marco Aurélio Mello, que negou o habeas corpus de Arruda, a intervenção é uma medida extrema. “Não tenho entendimento formado sobre a intervenção”, diz. Nos próximos dias, as atenções estarão voltadas não só para o STF, mas para a PF. As novas ações de busca podem redundar até na prisão de mais suspeitos. Policiais ouvidos por ISTOÉ acreditam que a investigação pode se estender por mais seis meses, tal a extensão de irregularidades. Tudo que o delator Durval Barbosa revelou até agora vem sendo confirmado. Apesar de não aparecer em vídeo ou escutas telefônicas em poder da PF, Paulo Octávio é citado por Barbosa como um dos beneficiários do esquema. Segundo Barbosa, P.O. embolsava 30% dos contratos de informática do DF, que movimentam R$ 200 milhões por ano. Para a PF, o elo entre o vice e o esquema do DEM é o executivo Marcelo Carvalho, que começou a trabalhar nas Organizações Paulo Octávio em 1985. A PF também aprofunda a investigação sobre suposta fraude no Banco de Brasília, o BRB, com a participação de P.O. e Arruda, e a mudança fraudulenta de destinação de terrenos em Brasília, o Plano Diretor de Ordenamento Territorial. Para aprovar a lei e valorizar seus terrenos, os empresários teriam pago mais de R$ 30 milhões em propinas dentro e fora da Câmara Distrital. O cerco aperta sobre o poder de Brasília e deixa a capital, cada vez mais, difícil de ser governada.  

DEM LAVA AS MÃOS

Enquanto o governo de José Roberto Arruda tinha a marca da eficiência de gestão e modernidade, o DEM o exibia no horário eleitoral de rádio e televisão como uma de suas principais vitrines administrativas. A legenda fazia questão de dividir os supostos méritos eleitorais da popularidade do governador. Depois do escândalo de corrupção no Distrito Federal, batizado de “Mensalão do DEM”, a atitude de quase todo o partido é livrar-se de Arruda. O DEM lavou as mãos. Seus líderes agem como se a simples expulsão de todos os envolvidos no caso o eximisse de responsabilidade sobre um governo que, segundo a Procuradoria- Geral da República, “encastelava uma organização com indícios de um esquema criminoso de apropriação de recursos públicos”. Em vez de responsabilidade, o que o DEM mostra agora é pressa, de olho na eleição presidencial. “A Executiva vai votar o pedido de expulsão do Paulo Octávio. Temos que pôr um ponto final nisso”, disse o presidente nacional da legenda, o deputado federal Rodrigo Maia (RJ).

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Ele e outros dirigentes, como o deputado Ronaldo Caiado (GO) e os senadores Demóstenes Torres (GO) e Agripino Maia (RN), ficaram irritados com a postura dúbia de Paulo Octávio, que havia prometido renunciar ao cargo para permanecer no DEM. Além de telefonar para Maia, o governador buscou em vão o apoio de outras lideranças. Na terça-feira 16, encontrou-se com Torres em Goiânia e levou figuras sem expressão no DEM, como o assessor Luiz Caland e a mulher dele, Raquel, que preside a ala feminina do partido em Goiás. “O tempo corre contra você e não podemos submeter mais o partido a esse escárnio público. Vou pedir sua expulsão”, ouviu de Torres. Sem alterar o semblante, Paulo Octávio lembrou ao senador que o caso atinge todo o partido, pois o governo Arruda ainda abriga assessores indicados por outros diretórios. “Se vocês insistirem em nos destruir, vai sobrar para todo mundo”, ameaçou o governador em exercício.


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