FOGO AMIGO Muito criticado pela oposição, Temporão não tem sido poupado nem por aliados

A paciência do presidente Lula com o seu ministro da Saúde, José Gomes Temporão, está chegando ao fim. A mais recente demonstração desse mal-estar ocorreu na quintafeira 19, quando Temporão foi praticamente ignorado na cerimônia de abertura da Semana Nacional Antidrogas no Palácio do Planalto. O ministro da Saúde nem sequer foi convidado a subir ao palco, ficando na platéia. Não deve ter sido falha do cerimonial, pois o presidente não chamou o ministro à mesa. Ao final do evento, Temporão ainda tentou cumprimentar o presidente Lula, que nem sequer se virou para vê-lo. Não foi a primeira vez que Lula demonstrou má vontade com seu ministro da Saúde. Em mais de uma ocasião, segundo interlocutores, Lula fez queixas ao estilo de Temporão. "Ele fica se metendo nessas polêmicas que não levam a nada, e não resolve os problemas na saúde", desabafou o presidente numa reunião do Conselho Político há dois meses. "Se tivesse havido mais empenho dele para manter a CPMF, não estávamos nessa situação agora", completou.

Por falta de traquejo político, Temporão perdeu o apoio do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, seu padrinho político. O ministro também não tem bom trânsito junto à bancada do próprio partido, o PMDB. Assim, não teve como cobrar esforço da bancada para aprovar o imposto do cheque. E não tem força também agora para tentar aprovar a CSS. A sucessão de crises no início do ano, com a epidemia de dengue e a volta da febre amarela, gerou o caldo que tirou a sustentação do ministro da Saúde. Com tudo isso, sua situação no governo começa a ficar incerta. Nomes no PT e no PMDB já circulam como alternativas. Fala-se na substituição de Temporão pelo peemedebista Geddel Vieira Lima, atual ministro da Integração Nacional, ou por médicos petistas, como o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), ou o líder do governo Henrique Fontana (RS).

"Esse desgaste é uma injustiça que se faz com Temporão", reage Fontana. Embora os maiores ataques a Temporão nasçam da própria base aliada, principalmente no PMDB, Fontana vale-se do usual expediente de atribuir o desgaste à oposição. "A oposição escolheu a Saúde como alvo porque sabe da sua importância", diz ele. Os argumentos de quem defende Temporão são de que sua possibilidade de atuação ficou manietada pela falta dos recursos da CPMF. Ela permitiria o dinheiro que viria a mais da Emenda 29 (em tramitação no Congresso, ela passa a vincular 10% da receita total da União à Saúde – hoje, esse percentual é de 7%). Fontana lembra que Temporão elaborou o programa Mais Saúde, o PAC do setor. As vertentes básicas do programa apontam para a medicina preventiva como método mais barato e eficiente de atendimento à população. Outra novidade é o programa Saúde nas Escolas, que prevê o atendimento médico em 26 mil escolas públicas. O Mais Saúde corrige ainda os valores da tabela de atendimento do SUS e prevê mais leitos nas UTIs e ampliação de serviços especializados, como tratamento de câncer e hemodiálise. "Para que isso seja possível, é preciso que haja uma fonte permanente de recursos, daí a necessidade da CSS. Este ano, houve aumento de arrecadação, mas quem garante que haverá no próximo?", argumenta Fontana.

"Isso é uma falácia. A história de que se precisa de mais recursos para a Saúde não cola mais", reage o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN). Para a oposição, o problema na saúde é de gestão: os recursos, que não são poucos, se perdem no caminho, levados pela burocracia e pela corrupção. O problema, para Temporão, é que mesmo no governo há quem concorde com isso. "Não faltam recursos, o que há é um crônico problema de gestão na administração da Saúde. O setor deveria passar por um desmonte seguido de uma ampla reforma", reconheceu à ISTOÉ um ministro, na semana passada, sem esconder a preocupação com o desgaste de seu colega de governo. "A gestão é mesmo o grande desafio da Saúde", também admite Fontana. "Por isso é que a grande resposta é apostar na medicina preventiva", conclui. Resta saber se Lula, a despeito das queixas no PMDB e de outros partidos da base aliada, inclusive o PT, continuará apostando no polêmico Temporão para cumprir essa tarefa.

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