Já se viu de quase tudo na política brasileira. Por exemplo, um príncipe regente português, dom Pedro I, que se insurgiu contra Lisboa e proclamou seu Dia do Fico para o bem de todos e a felicidade geral da nação. Houve ainda o caso de um presidente ligeiramente alcoolizado, Jânio Quadros, que renunciou à Presidência, na esperança de que fosse reconduzido ao poder nos braços do povo. O que ninguém nunca tinha visto era uma cena tão patética quanto a que foi protagonizada pelo governador interino do Distrito Federal, na última quinta-feira. Com ar solene, Paulo Octávio anunciou que continuaria no cargo, muito embora já tivesse até escrito sua carta de renúncia. Tinha a convicção de um bêbado. Ou, quem sabe, o compromisso daqueles adolescentes que hoje se dizem “fi cantes” – e não mais namorados. Tropeçando nas palavras, ele fez seu Dia do Fico como se já estivesse de saída. Um discurso digno de quem merece sair. Nem tanto pela culpa no cartório, mas, sobretudo, pela covardia. No seu pronunciamento, Paulo Octávio colocou-se a reboque de duas forças maiores: o todo-poderoso presidente Lula e a opinião pública. Disse que pretende ser um “facilitador” na solução da crise institucional do Distrito Federal e quis se vender como uma boa alma, desapegada do poder.

Mas, se tivesse certeza da própria inocência, ele teria a obrigação de lutar para continuar no cargo e combater uma eventual injustiça. Sem qualquer hesitação, insegurança ou medo. O problema é que Paulo Octávio, melhor do que ninguém, sabe daquilo que fez – ele só não sabe se os outros também sabem. E como Brasília virou um faroeste, com novos vídeos semipornográficos aparecendo a cada dia, ele se colocou no meio do caminho. Não renunciou, mas pode vir a fazê-lo a qualquer momento. Homem mais rico de Brasília, o governador interino sempre prosperou à sombra do poder. Um de seus primeiros empreendimentos foi o hotel St. Paul, construído em parceria com Sérgio Naya, em que 40 dos 272 apartamentos foram vendidos à Marinha – à época, Paulo Octávio era casado com a filha do ministro da área, Maximiano da Fonseca. Depois disso, ele foi da tropa de choque de Fernando Collor e ajudou a simular a famosa Operação Uruguai. Quando tudo foi esquecido, PO voltou à política e passou a alimentar um sonho: o de repetir a história de Juscelino Kubitschek. A tal ponto que acabou se casando com uma neta do fundador da capital federal. Na semana passada, ele conseguiu apenas ser um Jânio Quadro às avessas. O que diz que fica, mas que, no fim, acaba saindo.