WERNER RUDWART/KINO

Uma das grandes bandeiras do senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) é a ampliação no limite atual do desmatamento da Floresta Amazônica, de 20% para 50%. Ele é autor de um projeto de lei nesse sentido, que tramita na Câmara dos Deputados – projeto que já foi apelidado de "Floresta Zero". Nesta semana, o senador ganhou um parceiro de peso: o ministro de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, que assumiu a coordenação do Programa Amazônia Sustentável (PAS). Numa reunião com colegas de governo, na terça- feira 17, Mangabeira admitiu a flexibilização do limite legal do desmatamento: "Não há nenhum assunto tabu", assegurou o ministro. Ele deu a entender que, antes mesmo da possível aprovação do "Floresta Zero", poderia haver mudanças nos limites atuais através do chamado zoneamento ecológico-econômico. Trata-se de autorizações dadas pelos Estados para que o limite de desmatamento supere os 20% permitidos pela lei federal. Isso já acontece no Acre e em Rondônia. Procurado por ISTOÉ, Mangabeira não quis comentar o assunto.

A declaração do ministro acendeu uma luz amarela entre os ambientalistas e dentro do próprio governo. O diretor internacional do Greenpeace na Amazônia, Paulo Adário, acha que Mangabeira faz o jogo dos madeireiros e fazendeiros que ocupam a floresta de forma ilegal. "Existe um movimento orquestrado de mudança do Código Florestal para permitir a expansão do agronegócio na Amazônia", diz Adário. "O Mangabeira é um ministro do futuro com estratégia do passado, que adota a lógica do avanço da colonização da Amazônia na pata do boi, a mesma visão dos militares na década de 70." O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, lembra que conversou com o presidente Lula e informou que iria à Câmara e ao Senado procurar os líderes para derrubar qualquer medida que flexibilize o limite legal de desmatamento. "É uma posição que não é do Ministério do Meio Ambiente, é do presidente Lula e do governo, e é contrária à redução da reserva legal", disse Minc na quinta-feira 19, através de e-mail encaminhado pela sua assessoria.

ROBERTO CASTRO/AG. ISTOÉ

PORTA ABERTA O Ministério do Meio Ambiente
teme que as declarações de Mangabeira fortaleçam
os devastadores da Amazônia

Mangabeira Unger também dá sinais de que defende um tratamento diferenciado na região amazônica. "O Plano Amazônico Sustentável tem a ver com a Amazônia Legal, que é muito mais do que floresta, é 59% do Brasil, e inclui vastas áreas de cerrado ou savana tropical, que nunca foram floresta, inclusive todo o Estado de Mato Grosso, hoje um dos maiores celeiros do mundo", diz. Ele afirma que a maioria da população não quer entregar a Amazônia aos predadores, mas se dá o direito de interpretar o que o povo pensa a respeito da expansão sobre a floresta: "A grande maioria dos brasileiros não aceita a idéia da Amazônia como parque e sabe que este parque não se sustenta".