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LEGALISTA
Mário Oliveira diz querer governar sob o “império da lei”

 

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A poucas semanas do aniversário de 25 anos do fim da ditadura militar que governou o Brasil por duas décadas, o ex-soldado e hoje advogado Mário de Oliveira Filho prepara-se para lançar o programa de governo de sua pré-candidatura à Presidência da República pelo Partido Trabalhista do Brasil, o PTdoB. O documento de 89 páginas é uma compilação de propostas e conceitos ideológicos polêmicos  que, antes mesmo de ser divulgado oficialmente, tem aglutinado em torno do pré-candidato simpatizantes do golpe de 1º de abril de 1964, militares da ativa e da reserva, policiais que tiveram participação direta nos órgãos de repressão e empresários que admiram a história e a capacidade intelectual de Oliveira, um filho de ferroviário que atingiu o auge de sua carreira como executivo da área internacional da Construtora Norberto Odebrecht. Oliveira tem cativado a atenção desse grupo heterogêneo por defender posições marcadamente conservadoras. Entre suas principais propostas está a implantação imediata da pena de morte, da prisão perpétua, o fim do ensino público gratuito, a extinção das cotas para negros e índios nas universidades federais e a manutenção da jornada de trabalho de 44 horas. “Vivemos uma situação de guerra. Essa alternativa é para acabar já com a violência que tomou conta do País”, diz Oliveira. “Governarei sob o império da lei.”

O pré-candidato do PTdoB também é contra o principal programa de distribuição de renda do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Bolsa Família. Para ele, é um erro grave do governo conceder benefícios financeiros a pessoas que não trabalham. “Vou colocar esse pessoal para trabalhar em frentes de reflorestamento que pretendo abrir no Nordeste.” Em seu governo a reforma agrária seria extinta e o MST seria tratado como uma quadrilha. “Não há necessidade de reforma agrária no Brasil e o MST é composto por bandidos”, afirma ele, pausadamente, em um tom de voz sereno. As propostas de Oliveira têm encontrado eco junto a uma parcela da população brasileira que não se vê mais representada pela crescente polarização partidária do cenário político brasileiro. Apesar das diferenças programáticas e, em alguns casos, ideológicas, tanto o PT quanto o PSDB têm seus quadros formados por políticos que combateram, em maior ou menor grau, a ditadura militar. “Existe um grande eleitorado à procura de um novo Estado”, diz a cientista política da USP Maria Socorro Souza Braga. Para ela, tanto o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso quanto o do presidente Lula deixaram os setores médios da sociedade desprotegidos do “cobertor” que o Estado estendeu sobre os mais pobres. Os apoios a Oliveira têm se concentrado na internet. Seja por redes de e-mail, seja por sites ou blogs, seu nome tem sido apresentado a comunidades virtuais compostas por militares, policiais e apoiadores de toda a sorte.

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Em um e-mail público, o delegado aposentado Carlos Alberto Augusto, popularmente conhecido na época da ditadura militar como “Carteira Preta” pede apoio à candidatura de Oliveira. “Ele é nacionalista de verdade, temos que mudar nosso País, tirando-o das mãos do crime  organizado que está no poder”, afirma Carteira Preta, ligado diretamente ao delegado Sérgio Paranhos Fleury quando este chefiava o Deops de São Paulo na década de 70. Dentro e fora dos quartéis, Oliveira também é bem-visto. “Suas propostas de mudanças são bem centradas e podem acabar com os costumes negativos da política brasileira”, diz o general de Brigada Paulo Chagas, ex-sub-chefe do Estado Maior do Exército de Brasília entre 2004 e 2006. O site Ternuma (Terrorismo Nunca Mais), conhecido por abrigar defensores da ditadura militar, também recomenda que seus visitantes procurem conhecer melhor as propostas de Oliveira. Nessa campanha virtual, a candidatura de Oliveira já vai ganhando espaço. Referência dos “porões”, o blog Alerta Total fez uma enquete entre seus visitantes e ele ficou em segundo lugar, com 15% das intenções de voto, perdendo apenas para o candidato tucano José Serra, que foi o escolhido de 50% dos votantes. “Vamos crescer, ainda somos pouco conhecidos”, diz o presidente do PTdoB, Luiz Tibet. De fato, o partido conta com uma estrutura capenga. Com pouco mais de 125 mil filiados – o PT, por exemplo, tem mais de um milhão –, os trabalhistas têm apenas um deputado federal, 14 estaduais, oito prefeitos, 300 vereadores e nenhum senador ou governador. Pior: a legenda, que deverá seguir sozinha na corrida eleitoral, só conta com dois minutos diários de espaço na tevê e arrecada anualmente pouco mais de R$ 1 milhão.

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Dinheiro, no entanto, não parece ser exatamente um problema para Oliveira, que não esconde sua boa posição financeira. Ele acredita que conquistará mais de dois milhões de seguidores e, com a ajuda deles, pretende arrecadar R$ 40 milhões. “É o valor que precisamos para vencer as eleições”, diz ele, um assíduo frequentador de bons –e caros – restaurantes, apreciador de um bom vinho e amante de ópera. Apesar da fleuma, seu berço é proletário. Seu pai foi operário da Rede Ferroviária Federal – e um ex-militante do Partido Comunista Brasileiro – e a mãe, dona de casa. Sua história de estudante é igual à de milhares de brasileiros que venceram as adversidades. Estudou em escola pública até chegar à universidade. Ex-funcionário concursado da Petrobras, Mário Oliveira é mato-grossense da cidade de Aquidauana. Sétimo filho de uma prole de nove, esteve na Rússia, viveu na Suíça e, de volta ao Brasil, se lançou na política em 2006 filiando-se ao Partido Verde, legenda que abandonou no último ano. “O PV é um partido contraditório e midiático. Ele tem todo cuidado do mundo com o macaco-prego e não ataca a questão das favelas, que é um problema de saúde pública.” Agora ele acha que fez a escolha certa indo para o PTdoB e é a partir dele que quer colocar em prática seu projeto político de se tornar presidente do Brasil. 


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