VISÃO Instalado em um telescópio, o Harps é o melhor equipamento para caçar planetas

Para os leigos e os poetas, o brilho de uma estrela pode parecer igual ao brilho de todas as estrelas. Para os especialistas nas mais diversas áreas da astronomia, no entanto, a luz de uma estrela pode ser a chave da descoberta de outros planetas e sistemas. Uma dessas chaves foi localizada no Observatório de La Silla, no Chile, quando a equipe de astrônomos suíços liderada por Michel Mayor percebeu algo diferente na estrela HD 40307: "Ela não parecia nada especial, um pouco menor, talvez, em relação àquelas que estamos acostumados a olhar. Pelo sim, pelo não, decidimos observá- la mais atentamente. Veio a surpresa: contamos três planetas ao seu redor." Eles passaram então a ser estudados com o carinho que se tem por um recém-nascido. E a conclusão é que planetas semelhantes à Terra estão por toda a galáxia. Essa não é a primeira vez que a equipe de Genebra consegue achar uma agulha no palheiro cósmico, ou seja, outros já foram identificados, 270 até o momento, e todos chamados exoplanetas (fora do Sistema Solar). A maioria é gigante, semelhante a Júpiter ou a Saturno (aproximadamente 143 mil quilômetros de diâmetro). Planetas menores, mais próximos ao tamanho da Terra (diâmetro de cerca de 12 mil quilômetros), são mais difíceis de ser encontrados porque, ainda que estejam mais perto, a dezenas de anos-luz (um anoluz equivale a cerca de nove trilhões de quilômetros), são pequenos demais. Podem ser vistos, no entanto, indiretamente através de medições espectrográficas, e aí está uma espetacular tática de observação. Segundo os astrônomos, à medida que um planeta perfaz a sua órbita, ele "leva" a sua estrela a se inclinar levemente e tal inclinação pode ser medida com a moderna tecnologia do equipamento chamado Harps. "O Harps é uma máquina única de caçar planetas", diz Mayor. Esse instrumento é considerado o espectrógrafo de maior precisão em todo o mundo. Assim, se uma estrela surge inclinada é porque há um planeta que a "puxa".

O Harps está integrado a um telescópio de 3,6 metros de diâmetro que pertence ao Observatório Europeu, mas fica instalado no Chile – a América do Sul é privilegiada em sua localização geográfica, na Terra, para quem gosta de olhar o céu. Ele tem a capacidade de detectar mínimas variações no movimento das estrelas e consegue, dessa maneira, sinalizar se há um planeta ao redor. Foi com essa "inteligência" que apontou as três novas superterras orbitando a estrela HD 40307, que está aproximadamente 380 trilhões de quilômetros distante de nós – elas têm, respectivamente, 4,2, 6,7 e 9,4 vezes a massa da Terra (que é de 5.515 toneladas por metro cúbico). "Conseguimos saber que esses novos planetas giram muito mais rápido que o nosso em torno de sua estrela, e calculamos que tal rapidez seja de quatro a 20 dias terrestres", diz Mayor (diferença grande, se lembrarmos que a Terra leva 365 dias para dar uma volta em torno do Sol). Duas outras estrelas com planetas "casados", ou seja, dois outros sistemas planetários, também foram detectadas. Em um sistema há uma superterra orbitando a estrela HD 181433 – ela é, digamos assim, vizinha de Júpiter. O segundo agrega um planeta com massa 22 vezes superior à da Terra e está próximo a Saturno. Essas descobertas já seriam mais que suficientes para merecer a reunião de especialistas que se realizou na França, mas os cientistas suíços foram além: "Garantimos que, a cada três estrelas similares ao Sol, pelo menos uma delas tem em sua órbita planetas rochosos como a Terra. Os céticos que nos perdoem, mas não estamos sós no cosmo."


REVELAÇÃO O astrônomo Mayor diz que o cosmo está repleto de Terras