chamada.jpg

Sentadas no sofá de uma sala, quatro bonitas jovens conversam sobre sexo. Contam detalhes de suas experiências entre os lençóis e revelam desejos íntimos. São quase didáticas, sem perder o tom informal que caracteriza uma boa conversa feminina, especialmente sobre um tema tão quente. Mas nem a sala é privada e nem o debate é entre amigas. Trata-se de um programa de televisão que, desde novembro, quando estreou, foi visto por 2,4 milhões de pessoas de todo o Brasil. É um dos maiores sucessos do canal por assinatura Multishow e tem o sugestivo nome de “Papo Calcinha”. As apresentadoras Pietra, Luhanna, Bianca e Shai falam de suas posições preferidas na cama, em que parte do corpo gostam de ser tocadas na hora do sexo, como reagem quando chegam ao clímax, entre outros detalhes picantes, com impressionante naturalidade. “Elas têm uma audiência 23% superior à média do nosso horário nobre”, comemora Daniela Mignani, gerente de marketing da emissora. Guiadas por pesquisas nas quais os telespectadores pediram mais espaço para abordar a sexualidade na tevê, as emissoras parecem ter chegado ao ápice.

img.jpg
EVASÃO DE PRIVACIDADE
As meninas do “Podsex”, e do “Papo Calcinha” (acima): naturalidade impressionante no ar

Depois das dicas do sexólogo Jairo Bauer, na MTV, e de sua colega Laura Muller, no programa “Altas Horas”, da Rede Globo, a autoexposição sem limite é a tendência, uma das poucas fronteiras que ainda faltava cair. “Nossa responsabilidade não é ser politicamente correta, porque não somos ginecologistas, nem especialistas”, diz a loura Pietra, 27 anos, a mais ousada das quatro participantes – em tese, o público feminino seria o alvo do “Papo Calcinha”, mas curiosamente 62% da audiência é masculina. A MTV continua no filão: seu pioneiro “Podsex”, há um ano no ar, começou com uma conversa apimentada, entre as modelos Titi Muller e Kika Martinez, no site da emissora. “Não tinha nenhum filtro e soltava a língua. Depois, escutava e ficava com as bochechas vermelhas”, admite Titi, que hoje acha a abordagem mais natural. Para Kika, o “Podsex” provoca “um debate necessário e uma troca de experiências”. Há divergências. Para o sociólogo Laurindo Leal Filho, esses programas podem fazer parecer naturais práticas que muitos telespectadores nem cogitariam. “É comum a tevê apresentar o comportamento peculiar de um grupo ou classe social como se fosse algo generalizado, quando muitas vezes não é”, afirma.

“O ideal é que tudo seja apresentado com orientação de especialistas”, acrescenta a sexóloga Walkiria Fernandes. Uma das poucas vezes em que Pietra ficou sem graça foi quando admitiu, no ar, gostar de sexo anal. “Fui honesta ali e a honestidade assusta até a nós mesmos”, explica a apresentadora, para quem o programa expõe apenas um pedaço pequeno da sua intimidade. “Acho impossível que em 15 minutos, ao saber de meia dúzia de preferências, a pessoa consiga captar a minha essência.” É a era da evasão de privacidade.