Jamais vi algo parecido. A situação está fora de controle.” A frase dita em tom de desespero é do experiente inspetor Sam Padilla, um dos responsáveis pelo Corpo de Bombeiros do Condado de Los Angeles. Foi a ele que coube a dura missão de comandar uma verdadeira guerra contra a natureza: o incêndio que começou na Califórnia na noite do domingo 21, num momento em que toda a população do sul desse Estado já estava amedrontada devido aos violentos ventos combinados com temperaturas de 30 graus e uma seca que há oito meses castiga a região. Por suas dimensões e seu rápido avanço, incêndios florestais estão entre os fenômenos naturais que mais assustam e dão ao homem a sensação de impotência. Não era sem motivo, então, que o inspetor Padilla já soubesse, logo que o fogo começou, que oito mil bombeiros eram insuficientes para a atual emergência. E foi por isso que ele propôs ao governador Arnold Schwarzenegger que 2,6 mil prisioneiros também ajudassem a salvar a vida de pelo menos um milhão de pessoas. A sua sugestão foi aceita. Na quarta-feira 24, a polícia americana anunciou que a origem do incêndio fora criminosa: um suspeito foi morto e outro, preso. Tão rápido quanto o fogo, correu a história de que se tratava de um ato terrorista, mas, por outro lado, também se considerou isso como uma possível manobra do presidente George W. Bush em responsabilizar o terrorismo para ver a sua imagem menos desgastada diante das sucessivas tragédias naturais que vêm assolando os EUA sem que as autoridades consigam se antecipar a elas, prevenindo-as ou minimizando- as. Cerca de US$ 50 mil foram oferecidos a quem denunciasse suspeitos. Mas nada muda: ainda que alguém tenha posto fogo na mata, não fossem as péssimas condições climáticas da Califórnia e ele não teria se alastrado de forma calamitosa. O que os americanos ainda se perguntam é se nada poderia ter sido feito para proteger a região afetada.

Essa não é a primeira vez que a Califórnia sofre com o fogo. Em 1993 ela foi cenário de um incêndio que destruiu 400 casas e, há quatro anos, 24 pessoas morreram vítimas das chamas que queimaram cerca de quatro mil residências e edifícios comerciais em San Diego. Agora, trata-se da maior retirada de moradores num Estado dos EUA desde a passagem, em 2005, do furacão Katrina: mais de um milhão de pessoas tiveram de deixar o local onde moram. Até a noite da quinta-feira 25 havia seis mortos, 50 feridos e duas mil casas arrasadas. Em apenas quatro dias transformaram-se em cinzas 250 mil hectares de florestas e áreas residenciais, o equivalente a 350 mil campos de futebol.

O incêndio gerou um tipo incomum de desabrigados: milionários e artistas que moram em Malibue Orange County. Foi um corre- corre de famosos abandonando suas casas e lotando os porta- malas de seus carros com obras de arte, dinheiro e jóias – caso do ator Mel Gibson e da cantora Olivia Newton-John. Já os atores Sean Penn e Tom Hanks chegaram tarde demais em suas residências, sendo impedidos de buscar seus pertences mais valiosos. O cantor John Travolta sobrevoou a área com seu helicóptero para certificar-se de que as casas de seus amigos estavam em pé. Quem não correu para se abrigar na residência de pessoas conhecidas ou em hotéis acabou refugiando-se no próprio carro, como fez a produtora de tevê Patricia Clifford – ela dormiu quatro noites em seu BMW. “Meu marido ficou em casa para tentar conter o fogo”, disse Patricia, salva mas ainda assustada e intranqüila. Com razão. A julgar pelos boletins do Serviço Nacional de Meteorologia dos EUA, a baixa umidade do ar e os ventos poderão servir de combustível para outros incêndios. E a previsão do tempo na Califórnia aponta para dias ainda mais quentes.