A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) viu timidez na resposta do Congresso Nacional ao tarifaço de 50% imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aos produtos brasileiros, mas vê pouca ação justificada pela “posição delicada” pela pressão popular. Ex-líder do PSOL, Erika defendeu respostas enérgicas sobre a taxação, mesmo após o recuo parcial de Trump sobre alguns produtos.
Na última semana, Trump assinou o decreto que confirma a taxação de 50% sobre produtos brasileiros, como carne e café. O republicano retirou, após pressão do setor empresarial, produtos em que os EUA são dependentes, como o suco de laranja e os aviões da Embraer. As medidas passam a valer a partir desta quarta-feira, 6.
Após o anúncio do tarifaço, no dia 9 de julho, os presidentes da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), emitiram uma nota em que citam a aprovação da Lei de Reciprocidade e que defenderam diálogos nos campos “diplomático e comercial”.
Para Erika, o Congresso não chegou a ficar calado, mas deveria ter se posicionado de forma mais enérgica sobre o tema. Ela vê chances de resposta do Legislativo, caso Trump mantenha a taxação sobre os demais produtos, que representam 55% das exportações do Brasil.
“Eu não digo calado, mas tímido talvez. Me mostra que o Congresso não tomou a posição e não debateu essa questão como deveria”, afirmou, em entrevista à ISTOÉ.
“Agora, eu não sei até que ponto o Congresso vai continuar podendo se manter tão tímido. Não vou dizer que está calado, mas é dúbio, meio paradoxal. Me parece insustentável a longo prazo, porque se as medidas se perpetuar nós vamos ter um colapso no nosso país, que vai precisar de uma resposta do Legislativo”, ressaltou a deputada.
Tanto Motta quanto Alcolumbre ficaram de fora das articulações pela redução dos efeitos da taxação. Ambos chegaram a se reunir com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que lidera as negociações, defenderam a diplomacia, mas evitaram interferir nas conversas com representantes americanos.
Erika aponta que a pressão sofrida pelo Congresso pela votação de pautas impopulares, como o aumento no número de deputados e o debate do IOF, acendeu a preocupação do Legislativo em entrar em mais um tema polêmico.
“Eu acho que o Congresso estava em uma posição delicada com a campanha do ‘inimigo do povo’ e do ‘nós contra eles’, vinha sofrendo uma pressão muito grande após a derrubada do decreto do IOF, o aumento do número de deputados, o projeto da devastação”.
“O Congresso vem passando por uma série de projetos impopulares e me parece que não quiseram comprar mais um desgaste com determinada ala que, queira ou não, é forte no Legislativo”, concluiu.
Erika vê PSOL fora do radicalismo
Uma das principais articuladoras do PSOL na Câmara dos Deputados, Erika Hilton vê o partido bem posicionado e maior que em outras legislaturas na Casa. Para ela, a legenda tem conversado mais com outras frentes e deixou de ser um partido “nanico”.
Criado em 2004, o PSOL foi fundado por dissidentes do Partido dos Trabalhadores (PT), que criticavam a gestão econômica do primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na época, a legenda era mais posicionada ao campo socialista, mas tem mudado o próprio conceito nos últimos anos e intensificando as articulações nos bastidores.
Erika afirmou não ver o partido radical e defendeu o diálogo para enfrentar a correlação de forças dentro da Câmara. Ela ressaltou que a legenda não é “nanica” e defendeu maturidade da legenda para fortalecer a bancada.
“Eu acho que há necessidade de compreensão de que o PSOL não é mais um partido tão nanico como já foi. É um partido da base do governo, com assentos na Câmara dos Deputados e que precisa ter uma atitude madura, de partido responsável para enfrentar os debates. Acho que já estamos nesse lugar. Não vejo o PSOL como um partido de radicalismo de esquerda”, disse a deputada.
A ex-líder do partido na Câmara reforçou a defesa de pautas à favor das minorias e disse que a agenda não significa radicalismo. “O que é radicalismo de esquerda? É defender pautas relacionadas à questão dos direitos reprodutivos? É defender as pautas da comunidade LGBTQIA+. É defender o direito dos movimentos sem terra, sem teto e etc.Isso é ser radical? Porque se for, nós vamos ser sempre radical. Essa é uma agenda prioritária para nós”, reforçou.