Quem nunca sentiu vontade de consultar outro especialista para saber se a cirurgia sugerida por seu médico é mesmo necessária? Ou recorreu a outras opiniões para confirmar um diagnóstico? Em alguns casos esse recurso pode até ser desnecessário, mas em outros é fundamental. Tanto é que modernos centros de saúde brasileiros estão oferecendo os chamados programas de segunda opinião. Trata-se de uma iniciativa que permite ao paciente ouvir o parecer médico de especialistas de outros países.

Por enquanto, o serviço é sugerido em casos de câncer. Ele pode ser usado para confirmar diagnósticos, necessidade de cirurgia ou para buscar outras alternativas quando o tratamento não responde à terapia indicada. Normalmente, essas situações geram insegurança nos pacientes, familiares e até no médico. “Mas ser avaliado por especialista de outro país dá mais segurança ao paciente e à sua família”, afirma o oncologista Antônio Carlos Buzaid, do Hospital Sírio- Libanês, em São Paulo. Na instituição, mais de 50 pacientes recorreram ao serviço. O hospital mantém convênio com o Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, de Nova York, referência mundial no tratamento do câncer. A arquiteta paraguaia Gloria Rojas recorreu ao serviço após descobrir a volta de um tumor na mama. “Achava que deveria buscar tratamento fora do Brasil. O médico sugeriu ouvir uma segunda opinião sem precisar ir até os Estados Unidos”, conta. “A conduta foi fundamental para minha recuperação. Hoje estou bem”, conta.

A obtenção de outras opiniões é feita por meio de telemedicina, um serviço de consulta virtual que envolve dois ou mais especialistas atuantes em países diferentes. Em tempo real, eles discutem o caso e os procedimentos adotados. Isso envolve a apresentação de exames clínicos e até de imagens, como a tomografia. Em alguns casos, os médicos enviam amostras de material para biópsia em laboratórios especializados.

A existência do serviço não significa que a qualidade da medicina brasileira seja inferior a de outros países. O fato é que alguns centros médicos são especializados e têm reconhecida competência para tratar determinadas doenças, o que os qualifica até para mudar estratégias. “Já recebemos sugestões que nos fizeram alterar o direcionamento do tratamento, com resultados muito bons”, afirma o oncologista Auro Del Giglio, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. O hospital tem parceria com o M&D Anderson, um dos mais importantes centros oncológicos do planeta.

Esse modelo de consulta segue uma tendência mundial. Lá fora, muitas instituições oferecem programas de segunda opinião, e não só para câncer. Há para doenças cardíacas e neurológicas, entre outras. E algumas seguradoras de saúde oferecem o serviço. Quando ele é requisitado por algum cliente, é realizado por empresas como a WorldCare. “Os pareceres que oferecemos são feitos por especialistas de hospitais ligados às universidades de Harvard e da Califórnia”, afirma o cardiologista Ricardo Nabuco, executivo da empresa no Brasil. O lado ruim é o preço. Nos hospitais, uma consulta de segunda opinião não sai por menos de R$15 mil.