Darlan, 32 anos, e Cristina, 28, se casaram
há quase quatro anos e planejaram ter o primeiro filho em 2003. A gravidez
foi tranqüila e todos os exames deram ótimos resultados. O casal mora em Três Rios (RJ), mas teve o filho no Hospital Nossa Senhora da Piedade, na vizinha Paraíba do Sul. Cristina se submeteu a uma cesariana e entrou para o centro cirúrgico na manhã de 2 de setembro daquele ano. A partir daí, a história deles se entrelaça de maneira trágica com a do casal Marco Aurélio Ormindo, 28 anos, e Claudilene Aparecida Barbosa Rodrigues, 24, moradores de Paraíba do Sul. Claudilene deu entrada na mesma maternidade, no mesmo dia e hora, para dar à luz seu terceiro filho. Tivera uma gestação problemática devido à alta pressão arterial. Após os partos, as mães voltaram para os quartos e seus filhos foram trocados. Dois dias depois, Patrick, supostamente filho de Cristina e Darlan, estava morto por insuficiência respiratória. Poucos meses adiante, começaria o revés de Claudilene e Marco: como seu bebê, Marcos Marcelo, era muito diferente de todos da família, Marco desconfiou de traição conjugal e a convivência ficou insustentável. O casamento acabou. No dia 30 de março deste ano, a juíza Mara Mendonça, da Vara de Família, Infância e Juventude da cidade, emitiu sentença para desfazer, em definitivo, todos os equívocos legais. O nome de Patrick sai do atestado de óbito e volta para a certidão de nascimento, retificada, e o de Marcos Marcelo faz o caminho inverso.

O grande herói do drama é Darlan, policial militar, que resolveu investigar a história sozinho e descobriu a troca de bebês após exame de DNA que ele decidiu fazer. Foi instigado por Cristina, que não entendia como poderia ter gerado um filho com tantos problemas de saúde tendo tido uma gravidez tão tranqüila. Aos poucos, Cristina foi se lembrando de episódios que ganharam novas interpretações. Por exemplo, quando percebeu, ainda no hospital, que no braço de seu bebê havia uma pulseirinha com o nome Claudilene. No outro quarto, Claudilene também verificava que seu filho trazia o nome de Cristina na pulseira de identificação. Ambas recordam, hoje, como o caso foi resolvido pela enfermeira. “Ela pegou uma tesoura e cortou as pulseirinhas”, lembra Cristina. “Depois, pegou outras e escreveu os novos nomes”, completa Claudilene. Com esse gesto, sacramentou o erro.

Ao saber do episódio, Darlan voltou ao hospital e começou a levantar indícios da troca. Um delegado amigo o aconselhou a fazer um relatório de ocorrência e iniciar as investigações. Antes mesmo de realizar o exame de DNA, que provou a paternidade de Patrick, os envolvidos na história já antecipavam o final. Pai e filho são muito parecidos. “Quando cheguei na casa de Claudilene e Marco, todos perceberam a semelhança física entre a criança que estava lá e eu”, lembra. Os passos seguintes foram devolvendo a Cristina e Darlan a esperança e a felicidade. Para Claudilene e Marco, só tristeza. Após Patrick ser devolvido aos verdadeiros pais, Marco saiu de casa para sempre. Magoados um com o outro, não cogitam a reaproximação. Os dois filhos do casal, Maria Eduarda, cinco anos, e Marcos, seis, ficaram com a mãe.

Pode-se dizer que o “destino” foi bom para Cristina e Darlan por descobrirem que o filho estava vivo após chorar sua morte. Mas não há como dimensionar o que eles passaram. “Quando recebi a notícia da morte, dois dias depois do nascimento, quase me matei. Minha vida perdeu o sentido. Sozinho no quarto, andei em direção à minha arma. Graças a Deus, parei antes de atirar”, relembra. Outro momento de extremo sofrimento, para ele, foi ver o bebê morto. “Ele estava envolvido em lençol com fita crepe, sobre uma mesa de metal. Aquele corpinho era meu bebezinho morto. Eu desmoronei.” Cristina acompanhou tudo em estado catatônico. “No velório, eu chamava as pessoas e mostrava o caixão dizendo: ‘Olha como eu tive um filho lindo.’ Chorei e me desesperei. Ainda considero aquela criança meu filho.” Por fim, eles viveram extrema emoção ao receber o filho legítimo no colo. “Acho que nunca chorei tanto em minha vida”, diz Cristina.

Desempregada e com problemas de saúde, Claudilene só tem um objetivo:
“Quero que alguém me ajude a fazer exumação da criança que morreu. Preciso ter certeza de que é meu filho, não posso continuar com essa dúvida. Às vezes penso que, se trocaram o bebê deles pelo meu, podem ter trocado o meu por outro também. Meu filho pode estar vivo em outra casa.” A advogada Denair Moreira Mundinho foi contratada por Darlan para entrar com ação contra o hospital pedindo reparação de danos. Claudilene fará o mesmo. Mas nenhum deles espera ser ressarcido. “É impossível apagar os sofrimentos”, diz Darlan. “Minha vida revirou. E não tem mais jeito.”