Atolado em dívidas fiscais, fustigado por uma série de processos trabalhistas e sem perspectiva de melhora, o combalido futebol brasileiro recebeu um mãozinha e tanto do governo federal. A chegada da loteria Timemania representa um alívio e uma esperança para os endividados clubes brasileiros. A nova loteca terá a participação de 80 clubes das três divisões do futebol brasileiro. A cada teste, o apostador poderá fazer sua fezinha em dez times. Caso todos vençam suas partidas, o felizardo leva o prêmio máximo. Há também a aposta no “Time do Coração”, uma maneira de o torcedor ajudar sua paixão a sair do buraco. Quanto maior o número das apostas, mais o clube recebe. Mas, ao contrário do que desejavam cartolas desesperados e oportunistas, o dinheiro destinado aos clubes não cairá diretamente na conta das agremiações. Será utilizado para saldar dívidas com o INSS, a maior, a Receita Federal, o FGTS e outros tributos. A previsão de arrecadação inicial é de R$ 500 milhões/ano. Desse montante, R$ 125 milhões irão para os clubes – 65% para os times da primeira divisão, 25% para os da segunda e os 10% restantes para os da terceira.

A previsão é que a Timemania esteja nas ruas no início de maio. A medida provisória que a regulamenta está pronta e só depende da assinatura do presidente Lula. E da boa vontade de Severino Cavalcanti. O presidente da Câmara não anda nada satisfeito com o excesso de MPs despachadas pelo Executivo e ameaça embolar o meio-de- campo. Essas dificuldades não diminuem o entusiasmo do ministro dos esportes, Agnelo Queiroz. Ele acredita que os recursos produzam milagres, como a permanência de um craque como Robinho no Brasil. “A Timemania possibilitará que os clubes reestruturem suas finanças para que num futuro próximo possam manter seus craques jogando aqui.” Essas são as preces do presidente do Flamengo, Márcio Braga. O dono da maior torcida, e da maior dívida do futebol brasileiro, não vê a hora de a Timemania sair. O pendurado dirigente, inclusive, dá de ombros aos que não se conformam com o fato de o Flamengo, na divisão da maior fatia do bolo, receber da nova loteria a mesma quantia que o Brasiliense, time recém-promovido à primeira divisão e presidido pelo senador cassado Luiz Estevão. “Contando tudo, eu devo R$ 100 milhões e não tenho nenhum tostão para pagar. Por isso, aceito com alegria o que o governo está oferecendo.” Ele e todos os seus desesperados colegas de classe.