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EM BAIXA Dois anos depois de sua eleição, Bachelet vive reversão de expectativas

A Concertação, a mais sólida aliança de poder da América Latina, que há 18 anos une quatro partidos, de democratas cristãos a socialistas, e transformou o Chile num paraíso de estabilidade política, chegou ao fim antes que a presidente Michelle Bachelet completasse dois anos de governo. No final de 2007, Bachelet perdeu a maioria no Congresso, depois que o senador Adolfo Zaldívar, líder do grupo de direita do Partido Democrata Cristão, foi expulso da legenda, carregando com ele cinco deputados.

O fim dessa maioria não significa ainda que a Concertação se desfez no governo, mas marca uma dupla virada para Bachelet – e nenhuma delas é boa notícia para ela. A expulsão de Zaldívar revela que a briga para suceder Bachelet está tão antecipada quanto feroz. A campanha só será oficialmente aberta no final de 2009, mas Zaldívar foi vítima da ambição presidencial da líder do seu próprio partido, Soledad Alvear. As disputas também se dão entre as legendas que sustentam Bachelet, com uma constante troca de farpas entre PS e DC.

Numa tentativa de reagrupar o ânimo e a solidez da Concertação, a presidente chilena renovou o Ministério com a indicação de um velho político para a Pasta do Interior. Para quem se elegeu prometendo um governo de novas caras, a nomeação de Edmundo Pérez Yoma, há dez dias, significou uma reversão de expectativas já detectada nas pesquisas. Eleita com 53% dos votos, Bachelet tem agora uma taxa de aprovação inferior a 40%.

Os próprios políticos culpam a inabilidade da presidente pela crise sem precedentes desde o fim da ditadura de Pinochet. Bachelet foi ministra da Saúde e da Defesa antes de disputar a única eleição da sua vida – justamente para a Presidência. Esta foi a terceira reforma ministerial em menos de dois anos e, desta vez, a presidente foi obrigada a ceder mais do que queria: Yoma está sendo apresentado como uma espécie de primeiro-ministro. A esta aliança em franca decomposição vem somar-se agora os prognósticos negativos para a economia.

Na semana passada, o Banco Central anunciou que a inflação do ano passado foi de 7,8%, quase cinco pontos acima da meta de 3%. Para este ano, o quadro também é desestimulante. A inflação ficará em 4,5% (mas é bom lembrar que em 2007 a previsão nessa época era de uma inflação anual de apenas 2,3%) e a perspectiva de crescimento da economia baixou de 6% para uma meta entre 4,5% e 5,5%. Além disso, o Banco Central subiu a taxa de juros nos últimos três meses e deve seguir neste ritmo. "É uma combinação bastante negativa", disse o senador Camilo Escalona, do Partido Socialista.