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FUTURO Geber considera a opção interessante

O maior objetivo dos especialistas em medicina de reprodução assistida atualmente é fazer com que a mulher dê à luz apenas uma criança. Sabe-se que submeter mãe e fetos a uma gestação múltipla traz riscos sérios – inclusive de aborto. Nas tentativas de alcançar esta meta, a mais recente novidade vem de cientistas australianos da Universidade Monash. Em um artigo publicado no Human Reproduction, principal jornal científico da área, eles relataram a criação de um método que identifica o perfil genético do embrião com mais chance de se desenvolver. Dessa maneira, o exame possibilitaria que apenas ele fosse implantado.

A técnica foi criada com a ajuda de sofisticados recursos da pesquisa genética. Primeiro, os cientistas convidaram 48 mulheres que se submetiam à fertilização in vitro (união do óvulo com o espermatozóide em laboratório) a participar. Quando os embriões chegaram à etapa de blastocisto – cinco dias após a fecundação -, os pesquisadores retiraram deles até 20 células. Seu material genético foi analisado e elas, guardadas. As mulheres, então, tiveram pelo menos um embrião implantado no útero. Quando os bebês nasceram, foram submetidos a uma coleta de células do cordão umbilical. Elas tiveram seu DNA investigado e comparado ao que havia sido obtido das extraídas dos blastocistos. Assim, foi possível localizar quais embriões tinham de fato se desenvolvido.

Após a identificação dos embriões bem-sucedidos, os cientistas queriam saber quais as características genéticas que lhes proporcionavam essa condição. Eles chegaram a alguns genes que consideraram as "chaves" do sucesso. O objetivo agora é criar um teste acessível que possa ser aplicado para distinguir os embriões que possuam os tais genes e implantar somente eles.

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Hoje, os médicos aplicam algumas estratégias para tentar chegar aos embriões com maior chance de viabilidade. Uma delas é fazer uma análise morfológica de cada um. Dependendo das formas observadas, eles sabem dizer qual tem mais perspectiva de sucesso. Outra tática é detectar neles anomalias cromossômicas. O exame ajuda a descartar os que carregam doenças genéticas – condição, que, automaticamente, torna o embrião menos viável.

Uma tentativa mais simples é esperar que os embriões atinjam o estágio de blastocisto antes de serem transferidos. "Pelo menos a metade não chega nem a esta etapa", explica Selmo Geber, um dos especialistas da Clínica Origen, de Belo Horizonte. O médico foi um dos pioneiros nas pesquisas que objetivam reduzir o número de gestações múltiplas. Ainda na década de 90 ele participou de trabalhos sobre o tema, em conjunto com cientistas de outros países. Um dos estudos investigava o comportamento de uma célula retirada de um embrião. "Se ela se multiplicasse sozinha, era sinal de que o embrião tinha muita chance de ir para a frente", conta. Geber ficou entusiasmado com as portas abertas pelo trabalho australiano. "É de fato um caminho muito interessante", diz.