MURILLO CONSTANTINO/AG. ISTOÉ

Sossego na música
A gerente Michelle Diniz, 33 anos, só descobriu que tinha TDAH depois que o filho Enzo, dez anos, começou a manifestar sintomas. Cansada de ouvir várias versões sobre o problema do filho, foi pesquisar o assunto. Para sua surpresa, identificou traços de sua personalidade no que lia. "Tive o diagnóstico dias depois", lembra. Michelle e Enzo usam remédios e fazem terapia. Mas é na música que os dois se tranqüilizam mais. "As aulas de piano me ajudaram a controlar a ansiedade e o meu filho, a descobrir o mundo da arte", conta.

Eles são desatentos, inquietos e muitas vezes impulsivos. No dia-a-dia têm dificuldades de fazer simples atividades como ler uma notícia no jornal até o fim ou assistir à televisão sem mudar de canal a cada segundo. Tampouco conseguem aguardar em uma sala de espera. Agitados, sentam e levantam a toda hora, mexem mãos e pernas. No trabalho o drama é maior. São desatentos, desorganizados e penam na hora de realizar tarefas que exijam concentração. Assim é o mundo do adulto com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).

Mais freqüentemente associado a crianças, o distúrbio atinge em torno de 5% dos indivíduos com mais de 18 anos. Não é pouca gente. Além disso, os impactos do TDAH nessa fase da vida podem ser extremamente nocivos. "Essas pessoas não se fixam em emprego nem nos relacionamentos amorosos. Também têm menos chances de ingressar em uma faculdade", afirma o psiquiatra Fábio Barbirato, da Santa Casa do Rio de Janeiro. Como são impulsivos, eles também têm um risco 50% maior de sucumbir ao alcoolismo e às drogas e de se envolver em acidentes automobilísticos. "Há uma sucessão de fracassos que rebaixa a auto-estima. Com freqüência os pacientes entram em depressão", completa o neurologista Marco Antônio Arruda, do Instituto Glia, especializado em pesquisas na área de neurociências aplicadas à educação.

É por estas razões que a medicina começa a voltar seus esforços para atender melhor esses pacientes. O primeiro passo é aprimorar os métodos de diagnóstico para esse público. "Os critérios ainda não são conhecidos de muitos médicos", afirma a psicóloga Iane Kestelman, presidente da Associação Brasileira de Déficit de Atenção e Hiperatividade. O resultado da falta de informação é que vários pacientes demoram muito a ter a resposta correta sobre seus sintomas. "Tem gente que passa a vida tratando uma depressão ou ansiedade, quando na verdade o problema de base é o TDAH", explica o médico Paulo Mattos, coordenador do Grupo de Estudos do Déficit de Atenção da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

A dificuldade no diagnóstico priva os portadores do tratamento certo, criado a partir das pesquisas mostrando as alterações na química cerebral associadas ao transtorno. "Esses conhecimentos têm ajudado no desenvolvimento de terapias mais eficientes", afirma o neurologista Carlos Nogueira, professor de neurofisiologia clínica da Universidade de Brasília. Hoje, há opções de remédios que regulam a concentração no cérebro de substâncias vinculadas ao TDAH, particularmente a dopamina e a noradrenalina. "Os remédios melhoram os sintomas e a qualidade de vida dessas pessoas", diz o neurologista Mário Louzã, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. Outra âncora do tratamento é a psicoterapia. O método ajuda os pacientes a organizar os pensamentos e ensina estratégias para tornar o dia-a-dia menos confuso. Tudo para que o hiperativo consiga se adaptar sem sofrimento à vida adulta.

Troca de escola

ALEXANDRE SANTANNA/AG. ISTOÉ

Desde que ingressou na faculdade, aos 18 anos, o estudante carioca Bernardo Paraguassu, 24 anos, já tentou três cursos diferentes: direito, teatro e marketing. "Começo a estudar mas o estímulo acaba. Cada vez que isso acontece fico com uma sensação ruim por não ter conseguido", conta. Mesmo tendo sido diagnosticado na infância, Bernardo só começou a se cuidar há três meses. "Estou mais organizado. Até consigo ler uma matéria, pequena, no jornal", diz ele, que trabalha no restaurante da família, onde ainda faz muita coisa ao mesmo tempo.

É por estas razões que a medicina começa a voltar seus esforços para atender melhor esses pacientes. O primeiro passo é aprimorar os métodos de diagnóstico para esse público. "Os critérios ainda não são conhecidos de muitos médicos", afirma a psicóloga Iane Kestelman, presidente da Associação Brasileira de Déficit de Atenção e Hiperatividade. O resultado da falta de informação é que vários pacientes demoram muito a ter a resposta correta sobre seus sintomas. "Tem gente que passa a vida tratando uma depressão ou ansiedade, quando na verdade o problema de base é o TDAH", explica o médico Paulo Mattos, coordenador do Grupo de Estudos do Déficit de Atenção da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

A dificuldade no diagnóstico priva os portadores do tratamento certo, criado a partir das pesquisas mostrando as alterações na química cerebral associadas ao transtorno. "Esses conhecimentos têm ajudado no desenvolvimento de terapias mais eficientes", afirma o neurologista Carlos Nogueira, professor de neurofisiologia clínica da Universidade de Brasília. Hoje, há opções de remédios que regulam a concentração no cérebro de substâncias vinculadas ao TDAH, particularmente a dopamina e a noradrenalina. "Os remédios melhoram os sintomas e a qualidade de vida dessas pessoas", diz o neurologista Mário Louzã, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. Outra âncora do tratamento é a psicoterapia. O método ajuda os pacientes a organizar os pensamentos e ensina estratégias para tornar o dia-a-dia menos confuso. Tudo para que o hiperativo consiga se adaptar sem sofrimento à vida adulta.

MURILLO CONSTANTINO/AG. ISTOÉ

Volta por cima

Não é raro o administrador Josef Vainboin, 26 anos, esquecer documentos, mesmo depois de tê-los separado para levar ao trabalho. E ele também precisa controlar as crises de impulsividade. "Se vou fechar um contrato, morro de ansiedade." Para controlar os sintomas, o rapaz usa remédios e tem um "kit-memória" com agendas, despertadores e celular. Os primeiros sinais do TDAH apareceram na infância. "Era desatento e tinha dificuldade de aprendizagem." Mas o diagnóstico de um psiquiatra foi desolador. "Ele disse que eu tinha QI muito baixo e que não concluiria os estudos", conta. Seu pai, Israel, o levou para os EUA. "Lá soubemos o que era o problema. E consegui estudar."