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EM CASA O artista em sua loja Gokan Kobo, em Paris: hoje ele se dedica à decoração

Floresta, índios, botos cor-de-rosa. Quando recebeu o convite da organização da São Paulo Fashion Week para participar do evento, que acontece de 17 a 23 de junho, na capital paulista, o estilista japonês Kenzo Takada, 68 anos, só conseguia pensar em realizar seu sonho de conhecer a Amazônia. Tudo acertado, uniu o útil ao agradável. Estará presente na prestigiada semana de moda cujo tema é 100 anos da imigração japonesa no Brasil, e dará ao menos duas palestras em São Paulo. Antes disso, passa alguns dias imerso na floresta tropical. O estilista desembarcou no sábado 7 em São Paulo, onde ficou o final de semana, e em seguida partiu para o arquipélago de Anavilhanas, a 60 quilômetros de Manaus. Voltará à capital paulista na véspera da abertura da São Paulo Fashion Week, onde pretende aprender sobre moda brasileira. "Só conheço o Rio e a Bahia, quero curtir São Paulo e seus artistas", disse à ISTOÉ antes de desembarcar no País. Ele já começou a cumprir sua promessa: visitou a Pinacoteca do Estado e o prédio da Bienal antes de se embrenhar na selva.

Kenzo Takada entrou para a história da moda como um dos estilistas mais reverenciados – e copiados também. Inovador e criativo, ele era Ph.D. em impressionar a todos com seus desfiles. Em 1977, apresentou sua coleção na inauguração da mítica boate Studio 54, em Nova York, com sua amiga Grace Jones cantando pela primeira vez em público. Dois anos depois, encerrou um desfile em Zurique (Suíça) montado em um elefante. "Sempre gostei de brincar com o universo lúdico dos sonhos", comenta. Também era um exímio criador. "Kenzo surpreendeu Paris com seu mix de estampas e colorido desmensurado", diz Marco Sabino, autor de Dicionário da Moda. "O delirante espírito folk de suas coleções deixou um registro de bom humor na história da moda para sempre."

O estilista, que nasceu em Himeji, no Japão, foi para a França de navio em 1965, já com a pretensão de entrar para o mundo da moda. O choque cultural quase fez com que abrisse mão de seus planos. Ele não conseguia se sentir bem em meio ao cinza invernal de Paris e estava muito saudoso de casa – mas a chegada da primavera lhe recobrou os ânimos. Com pouco dinheiro, suas primeiras coleções foram desenvolvidas a partir de retalhos adquiridos em brechós. As estampas, coloridas, nasceram da necessidade de improvisação, mas acabaram se tornando uma de suas marcas registradas.

Cinco anos depois, já no comando de sua butique, a Jungle Jap, apresentou seu primeiro desfile e ganhou a capa da revista Elle. Rapidamente, se tornou conhecido e mudou o nome da loja para Kenzo. Foram 30 anos de dedicação à marca. Até que, em 1993, vendeu a empresa – que a essa altura reunia coleções de roupas feminina, masculina e infantil, além de linha de perfumes – para o conglomerado do luxo LVMH (detentor de grifes como Louis Vuitton e Dior), mas permaneceu diretor criativo da marca por seis anos. Há três, pilota a Gokan Kobo (Ateliê dos Cinco Sentidos), uma loja de decoração e objetos de design, em Paris, cidade que adotou. Apesar de admitir sentir saudade do universo fashion, garante que está feliz com suas aventuras pela pintura, a mais recente paixão. Enquanto isso, mata a saudade na semana de moda de São Paulo.