Portugal está em festa. Na cidade de Vila Real, as celebrações começaram na quinta-feira 31 com um recital de música do século XVIII. Em São João da Pesqueira, a programação prevê a realização de banquetes que reproduzem o ambiente palaciano daquele período. Sessões de cinema, palestras, exposições de fotografias e até um leilão de garrafas antigas prometem consumir R$ 2,8 milhões até domingo. O motivo para tanto fuzuê é etílico. Faz exatamente 250 anos que o vinho do Porto tem nome, sobrenome, certidão de nascimento e comprovante de residência. Foi em 10 de setembro de 1756 que o Marquês de Pombal instituiu a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do  Douro e determinou que só as vinícolas daquela região poderiam produzir a  célebre bebida portuguesa, uma estratégia para combater as falsificações e afastar a concorrência que surgia em países vizinhos. Nascia, assim, a primeira demarcação do mundo, um modelo que, mais tarde, seria adotado em regiões como Champagne e Bordeaux.

Apesar do nome Porto, o vinho é feito no Douro, a 100 quilômetros do litoral. Apenas seu envelhecimento e sua comercialização ocorrem na cidade portuária. A bebida foi inventada por holandeses e ingleses, que estacionavam seus navios no Porto e, antes de voltar para casa, abasteciam os porões com enormes tonéis de vinho tinto. Para manter o sabor durante a travessia, os navegantes introduziam nas barricas porções generosas de destilado de uva (similar ao conhaque). A prática aumentava a gradação alcoólica da bebida e a tornava resistente à oxigenação. Hoje, segundo as regras formuladas pelo Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, o produto deve ter entre 19% e 22% de álcool.

No Brasil, o hábito de consumir vinho do Porto cresce a cada ano. Em 2005, foram importadas 90 mil caixas. Este ano, a carga será maior. Falta aos brasileiros aprender que o Porto não é necessariamente um vinho de sobremesa. “O tipo branco é seco e pode ser tomado como aperitivo. Os tintos vão bem com queijos azuis, como roquefort e gorgonzola”, diz Gianni Tartari, da Enoteca Fasano. “O mais importante é trocar o copinho de licor que muitos insistem em usar por uma taça mais bojuda, como as de tinto convencionais.” E beber com moderação.