Desta vez, o alemão ficou para trás. A brincadeira não escapou a muitos brasileiros. Depois de uma hora, 28 minutos e 51 segundos, o paulista Felipe Massa recebeu a bandeirada no Grande Prêmio da Turquia e fez a esperança se acender entre os fãs da Fórmula 1 na última semana. Aos 25 anos, Felipe conquistou sua primeira vitória na categoria. Apesar de experiente em pódios, nunca antes o champanhe da vitória lhe caíra tão bem. Pudera. A disputa entre Michael Schumacher e Fernando Alonso pela liderança do campeonato deu o toque especial. Se Schumacher, terceiro colocado na prova, ultrapassasse Alonso, provavelmente Felipe teria de ceder a liderança, uma prática da Ferrari para favorecer seu primeiro piloto. ?É o dia mais importante da minha vida?, resumiu o brasileiro. Quem conhece a história de Felipe entende a emoção. Em São Paulo, Raffaela Bassi, 28 anos, brindou com champanhe e compartilhou por telefone a alegria do piloto, seu namorado há quatro anos. ?O Felipe disse que demorou para se dar conta do que havia feito e eu coloquei o trecho final da narração da prova para ele escutar o tema da vitória?, contou Raffaela, estilista e administradora da grife Guaraná Brasil. Em Istambul, Ana e Titônio Massa acompanharam de perto a vitória do filho. Foi Titônio quem introduziu Felipe no kart quando ele tinha apenas oito anos e já havia decidido seu futuro. Em um vídeo caseiro, o garoto responde com determinação à pergunta da mãe sobre o que desejava ser quando crescesse. ?Piloto?, cravou. A determinação de Felipe teve outras testemunhas. Em Botucatu, cidade do interior paulista onde a família vivia, as professoras se desesperavam com as faltas motivadas pelas corridas. Uma vez, o menino entregou uma prova em branco. No verso, um desenho do autódromo de Interlagos. A mãe foi instruída a procurar um psicólogo. O pai preferiu apelar para a ?velha pedagogia?: ?Se for mal na escola, você não correrá mais?, ameaçou. Felipe Massa tinha 17 anos quando trocou o kart pela extinta Fórmula Chevrolet. Faturou o campeonato de 1999 e rumou para a Itália em busca de novos circuitos. Com dinheiro para apenas seis provas, foi aceito na equipe Cram e pôde disputar os campeonatos europeu e italiano de Fórmula Renault. Ganhou os dois. ?Sua trajetória é sinônimo de determinação?, reforça Ricardo Tedeschi, o primeiro empresário. ?Uma vez, quando ainda corria na Chevrolet, Felipe pediu para que eu o ajudasse a se infiltrar no GP Brasil. Arrumei um bico na cozinha da Benetton e ele passou a semana carregando sacos de batatas e latas de refrigerante para curtir o burburinho dos bastidores?, conta. Hoje, o cozinheiro da Benetton trabalha na Ferrari. No primeiro ano na Europa, Felipe fez mais bicos, porém em uma funilaria. Ao conquistar uma pole position, vendeu as 150 garrafas de cerveja oferecidas como prêmio para engrossar o orçamento. Agora, tudo o que quer é abraçar algumas garrafas de champanhe com mais freqüência. Essas ele não precisará vender.