Guarde roupas escuras e saias muito justas. A moda que promete ferver nas passarelas da próxima estação revive o barroco, o estilo ornamentado e exuberante que, da pintura à literatura, fez história nas cortes européias entre o final do século XVI e meados do XVIII. A estética, adaptada à modernidade, enaltece os colos femininos e valoriza a cintura. Nos homens, imprime a elegância por meio de tecidos nobres nas camisas e até abotoaduras nos punhos. Coletes com estampas que remetem à tapeçaria da realeza dos tempos de Luís XVI também serão bem-vindos. Os primeiros sinais de que o novo estilo está chegando ao País podem ser vistos na coleção do estilista Fause Haten que ganha as prateleiras neste mês. “Busquei referências do século XVI e me inspirei em figuras barrocas”, conta. Fause já tinha apresentado algumas dessas peças na última São Paulo Fashion Week, em julho. No desfile, modelos exibiram os tons dourados e pastel, os laços e os corseletes que marcam a sofisticada estética, além das saias com mais volume e as roupas mais armadas com tecidos como tafetá – panos diáfanos, por exemplo, podem ficar na gaveta. Nas palavras do estilista, o novo barroco irá reverberar no mundo. E também no Brasil. Parte dessa aposta se deve à expectativa em torno do filme Marie Antoinette, dirigido por Sofia Coppola, prestes a ser lançado. É versão cinematográfica da história de Maria Antonieta, arquiduquesa da Áustria e rainha consorte da França de 1774 até 1789, quando a Revolução Francesa transformou o país e a condenou à guilhotina. Para o figurino, Sofia convocou a “alta corte” da moda. Karl Lagerfeld, da Chanel, e John Galliano, da Christian Dior, assinaram as peças. Ambos, aliás, já tinham provocado o público em janeiro, em Paris, com coleções que faziam alusão ao marco histórico francês. As roupas do filme já podem ser vistas em trailers exibidos no site do estúdio Sony Pictures (www.sonypictures.com/movies/marieantoinette). Também é possível conferir a rica indumentária dos personagens na edição deste mês da Vogue America. Kirsten Dunst, que representa Maria Antonieta, foi clicada pela prestigiada fotógrafa Annie Leibovitz no Palácio de Versalhes, onde a produção foi rodada. “Você respira de modo diferente nesses vestidos. E se move de uma maneira especial”, declarou a atriz para a publicação. A bela envergou as peças do filme e também um vestido de tafetá desenhado por Alexander McQueen. Faz todo o sentido. “Essa é uma moda ornamental”, afirma o estilista Mário Queiroz, professor da faculdade de moda Anhembi-Morumbi, de São Paulo. Naquele período, as pessoas cumpriam rituais para se vestir e a estética cumpria um papel fundamental na sociedade. Com a releitura do barroco, pressente-se no ar um certo desejo de luxo. Colar de pérolas, por exemplo, é uma excelente pedida. Lingeries luxuosas, espartilhos e sutiãs de renda trabalhada vão cair muito bem. Espera-se muito romantismo. Apesar disso, não se acredita em exageros. Ou pelo menos não tantos assim. “Meus alunos já estão pensando em anquinhas”, diverte-se Queiroz. Anquinhas, para quem não sabe, são aqueles artefatos que as damas do passado colocavam em torno dos quadris para avolumar a porção inferior do corpo. A pergunta que muitas podem fazer é se os volumes das saias não darão a sensação de que as medidas estão acima do ideal. “Com uma cintura fina e bem marcada e o colo em destaque, desde que as pernas não sejam grossas, eles favorecem as mulheres”, ensina Fause. E que venha a elegância.