Confira abaixo a versão em vídeo da reportagem

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Estamos a 28.000 km/h e a 320 quilômetros de altitude, sobre a costa ocidental da África. Conexão com a Estação Espacial Internacional em 90 minutos. Tudo corre bem. Vá, Endeavour!” A mensagem, postada pelo astronauta Nicholas Patrick em sua página no Twitter na terça-feira 9, registra um dos últimos capítulos de uma história marcante. A bordo de um dos três ônibus espaciais americanos ainda em atividade, o engenheiro britânico faz parte da equipe responsável pela instalação de um dos módulos finais da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) e é testemunha ocular do ocaso da “máquina mais complexa já construída pelo homem”. Depois que a Endeavour tocar o solo terrestre, provavelmente no dia 20, restarão apenas mais quatro missões aos ônibus espaciais. As gigantescas naves literalmente virarão peças de museu.

Criado em 1969, ainda no governo de Richard Nixon, o programa dos ônibus espaciais surgiu graças à necessidade de redução de custos, levados à estratosfera ao longo da guerra pela conquista da Lua. A ideia era simples: investir em naves reutilizáveis – os foguetes do programa Apollo eram descartados durante as missões – e capazes de realizar missões científicas e comerciais, sobretudo o transporte de satélites de comunicação. Depois de 13 anos de projetos e testes, a Columbia inaugurou oficialmente uma nova era ao decolar do Kennedy Space Center, em 11 de novembro de 1982. Desde então, mais quatro naves foram construídas (Challenger, Atlantis, Discover e Endeavour) e a exploração espacial ganhou novos contornos. “O quadro geopolítico do planeta foi redesenhado, os objetivos dos Estados Unidos mudaram e a exploração do espaço ficou restrita à fatia perto da Terra. Os 29 anos dos ônibus espaciais foram muito importantes, apesar de terem talvez contrariado os sonhos daqueles que achavam que, a esta altura, o homem já teria chegado a Marte”, diz o escritor e astrofísico brasileiro Marcelo Gleiser, professor da Universidade de Dartmouth (EUA).

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CHALLENGER
A explosão da nave, em 1986, marcou a história da Nasa

Para especialistas como Gleiser, um dos maiores méritos do programa foi o lançamento de telescópios na órbita terrestre. Entre eles está o Hubble, responsável por levar nosso conhecimento a respeito do universo a limites antes inimagináveis. Além disso, os ônibus da Nasa foram cruciais para a construção da ISS, ao lado de naves da Agência Espacial Europeia e da Rússia. Mas não há como não lembrar das duas tragédias que marcaram a história das naves. Em 28 de janeiro de 1986, a Challenger explodiu sobre a Flórida 73 segundos depois de seu lançamento, por causa de uma falha em um de seus tanques de combustível sólido. Seus sete tripulantes morreram e o programa entrou em crise depois de denúncias de negligência chegarem à imprensa. A história se repetiu 17 anos depois, em 1º de fevereiro de 2003, quando a Columbia se desintegrou ao reentrar na atmosfera terrestre em razão de danos causados em seu exterior durante a decolagem. Mais sete astronautas perderam suas vidas e os voos foram interrompidos por mais de dois anos e meio.

Hoje, não é nenhum exagero comparar os ônibus espaciais a um carro velho equipado com os motores de um Fórmula 1 e a tecnologia de navegação de um Boeing de última geração. As naves foram reformadas progressivamente, mas é hora de ir além. Apesar dos cortes no orçamento da Nasa promovidos por Barack Obama, o programa Orion, que visa a volta à Lua e a exploração de Marte, deve ser a nova prioridade. Quanto aos três ônibus restantes, já se sabe que a Discovery foi prometida ao museu Smithsonian, em Washington. Especula-se que tanto a Endeavour quanto a Atlantis deverão ir a leilão com o lance mínimo de US$ 28,8 milhões. Enquanto isso, os astronautas americanos passarão a viajar de carona nas missões russas. Um sinal significativo da nova ordem que rege a exploração do cosmos.

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