5 momentos em que as marcas extrapolaram todos os limites em ‘Vale Tudo’

O remake de ‘Vale Tudo’ reacendeu debates não só pela releitura de uma das novelas mais icônicas da televisão, mas também pelo excesso de merchandising em suas cenas. Se a narrativa aborda moralidade e ambição, as marcas aproveitaram cada brecha para transformar até diálogos intensos em vitrines publicitárias.

Nos anos 80, a história discutia ética, corrupção e poder dentro da ficção. Já na versão atual, a publicidade ganhou tanto espaço que acabou virando um “personagem” à parte. Empresas de diferentes setores não apenas patrocinaram a produção, mas também se infiltraram em conversas, momentos emocionantes e até viradas decisivas do enredo, muitas vezes quebrando o clima dramático para encaixar slogans disfarçados de falas.

Esse movimento não é novidade: telenovelas sempre foram canais poderosos para marcas. O que chamou atenção, desta vez, foi a intensidade com que o recurso foi utilizado, gerando reação imediata do público e das redes sociais, que se dividiram entre críticas, piadas e memes. Afinal, até que ponto a estratégia enriquece a narrativa — e quando passa a soar como propaganda descarada?

Para entender melhor esse dilema, listamos cinco momentos em que o merchandising deixou de ser detalhe e assumiu o protagonismo da trama, com cenas que vão do constrangimento à comédia involuntária.

O carro elétrico da BYD no meio da fuga dramática

Em uma sequência de perseguição, Maria de Fátima escapa em um BYD novinho em folha. A cena, que deveria transmitir tensão, virou propaganda explícita: closes no painel digital, menção à autonomia da bateria e até uma fala inusitada — “com esse carro, eu vou longe, sem parar para abastecer”.

Raquel, em um momento de reflexão após mais uma decepção com a filha, aparece lavando roupa. Entre lágrimas, segura a embalagem de OMO e solta a frase: “pelo menos esse tira até as manchas mais difíceis”. A internet não perdoou: a dramaticidade virou meme instantâneo.

Durante o aguardado reaparecimento do filho de Odete Roitman, a tensão dramática da cena foi interrompida por um momento de merchandising que acabou chamando mais atenção do que o próprio desfecho da trama.

No exato instante em que Odete, abalada, via o filho entrar pela porta depois de anos desaparecido, Solange surge carregando uma cesta enorme repleta de produtos de limpeza. Em vez de acompanhar o impacto da revelação, ela anuncia com entusiasmo o novo sabão OMO Poder das Cores, exaltando sua capacidade de remover até as manchas mais difíceis.

A cena, que deveria girar em torno do choque e da emoção do reencontro, acabou se transformando em vitrine publicitária. O ponto alto do exagero foi quando o próprio filho de Odete segurou a cesta e, em tom simbólico, declarou: “Talvez seja hora de lavar o passado”. A câmera, então, fechou no logo do OMO, encerrando o momento dramático com um evidente apelo comercial.

Zé Delivery no jantar de reconciliação

Na emblemática cena em que personagens tentam se reconciliar, a mesa está recheada de pratos. Mas nada chama mais atenção do que o delivery de Zé Delivery, com caixas estrategicamente viradas para a câmera. O garçom ainda completa: “Zé Delivery entrega rápido, até nas histórias de amor.”

Durante um momento de tensão dramática — em que a personagem deveria estar angustiada com o rumo da própria vida — a narrativa é interrompida pela chegada de um motoboy do aplicativo, devidamente uniformizado, entregando a refeição com direito a enquadramento no logo e diálogo explícito sobre a praticidade do serviço.

O efeito é quase cômico: em vez de sustentar o clímax emocional da cena, o roteiro abre espaço para uma propaganda disfarçada, onde a personagem agradece pela rapidez da entrega, exaltando o nome da marca. O público não deixou passar despercebido, e a cena rapidamente virou meme nas redes sociais, sendo lembrada como um dos maiores exageros de publicidade na trama.

Marca João e Maria no hospital

Em diálogos pouco naturais, personagens param a cena para anunciar sabão em pó, tinta de parede, produtos infantis e até carros de luxo. Um dos casos mais comentados foi o de Afonso (Humberto Carrão), que chegou a fazer propaganda de marca infantil direto do leito de hospital, enquanto enfrentava quimioterapia.

O excesso de “publis” na novela virou motivo de chacota. “Não me surpreenderia, no enterro da Odete, ter merchandising de caixão e serviço funerário”, ironizou um telespectador. Apesar das críticas, o remake é um sucesso comercial e considerado uma das mais lucrativas da emissora (em termos de publicidade). Mas, para o público, os pontos levantados não passaram despercebidos.

Morte de Odete Roitman vira sucesso comercial

A antagonista central do remake de Vale Tudo, Odete Roitman, interpretada por Débora Bloch, terá seu destino selado na próxima semana, e sua morte promete movimentar não apenas a curiosidade dos telespectadores, mas também o planejamento comercial da Globo.

Para este desfecho, a emissora organizou uma série de ações de merchandising diretamente ligadas ao suspense em torno da vilã. A estratégia é aproveitar o clima de mistério — com vários personagens sendo apontados como possíveis responsáveis pelo assassinato — para aumentar a exposição das marcas junto à audiência.

Segundo a Globo, os intervalos comerciais dos capítulos finais da novela já estão completamente vendidos, contando com a presença de 20 anunciantes que se beneficiarão dos momentos mais decisivos da trama.

Além disso, sete marcas terão ações especialmente relacionadas ao enigma da morte de Odete Roitman: Omo, iFood, Dove, Itaú, Zé Delivery, Subway e Serasa.

Previsto para encerrar em outubro, o remake de Vale Tudo, escrito por Manuela Dias, vem registrando recordes de merchandising. Até meados de setembro, a produção já havia exibido 87 inserções comerciais, número que deve crescer nos capítulos finais.

Essa frequência faz com que a novela apresente uma ação de merchandising a cada dois capítulos, consolidando-a como a produção da faixa das 21h com maior faturamento comercial da Globo.