Devota de Santa Rita de Cássia, Maria Lúcia Ribeiro Alckmin já viu muita missão impossível acontecer. Nas oito eleições em que esteve ao lado do marido, em nenhuma delas ele largou como favorito, mas venceu todas, à exceção de uma, para a Prefeitura de São Paulo, em 2000. Desta vez, a julgar pelas intensas andanças de dona Lu nesta campanha, a santa das causas impossíveis já está em campo, em franca atuação contra os indicativos de todas as pesquisas de opinião. “Tenho fé e certeza – cer-te-za! – na vitória do Geraldo”, diz a sorridente e empenhada mulher do candidato tucano à Presidência. “A eleição irá para o segundo turno e, lá, ele vai ganhar. O Brasil não pode mais continuar nesta situação.”

É uma profissão de fé em tom afetuoso que a ex-primeira dama de São Paulo já manifestou nas últimas oito semanas em sete Estados: Mato Grosso do Sul, Sergipe, Pernambuco, Ceará, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo. Ao total, pediu votos em 35 cidades, 27 no Estado que o marido governou nos últimos seis anos e ela foi primeira-dama. Todas as suas andanças são registradas em um caderno, na qual anota dados geográficos e sociais dos locais visitados. Tudo com extremo capricho. As informações mais relevantes, sublinha com canetinhas de cor. Qualquer semelhança com uma agenda de adolescente não é mera coincidência. Nascida em 1951, dona Lu é mãe de três filhos – Thomaz, 23, Geraldo, 25, e Sophia, 26. E avó de Isabela, de apenas dois anos, fruto de uma relação do caçula Thomaz com uma namorada. Entregue à missão de eleger o marido, dona Lu só lamenta o pouco tempo para ficar com a neta. A menininha se transformou no verdadeiro xodó da família Alckmin. Os olhos da vovó brilham quando ela fala da primeira vez que levou a netinha ao zoológico. Apesar do aperto no coração, tudo o que a esposa do presidenciável tucano não quer agora é tempo.

Os roteiros das viagens são planejados de modo a dona Lu estar sempre em lugares diferentes do candidato, como forma de potencializar sua capacidade de pedir votos. Só o acompanha quando ele pede. “Se a gente se dividir pode falar com mais pessoas. Eu ajudo mais assim do que se eu estiver ao lado dele.” A ex-primeira-dama de São Paulo é sempre ciceroneada por uma pequena equipe de quatro assessores. Austeridade que se estende à bagagem. A senhora acusada por um estilista de receber mais de 400 vestidos de cortesia carrega apenas uma prosaica malinha de mão, em que carrega poucas peças de roupa. O resto do vestuário vai no corpo mesmo. E só. Os deslocamentos são feitos em aviões de carreira ou a bordo de um bimotor King Air fretado pelo PSDB.

Além de pedir votos, a ex-primeira-dama paulista aproveita para conhecer projetos sociais dos locais que visita e para divulgar iniciativas implantadas durante sua gestão no Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo. “Com o Geraldo eleito eu quero ser a voluntária social número 1 do País”, repete dona Lu, quase na mesma freqüência em que pede votos para o marido candidato. Só não peçam para ela dar palpites na tática de campanha. Ela segue à risca as regras do cerimonial da boa primeira-dama. “O Geraldo é competente e sabe o que faz. Não dou palpite no que não conheço”, diz.

IstoÉ acompanhou a passagem de Lu Alckmin pelo norte do Paraná e oeste paulista. E comprovou in loco que o sorriso da ex-primeira-dama paulista não se dissipa nem quando surpreendido por maldosos comentários. “Para mim esse cara é um Collor disfarçado. Quer ser eleito para defender a burguesia”, bradava o mecânico Jaeder Lucas de Andrade, 35 anos, na quente manhã de Maringá, uma das quatro cidades visitadas no giro paranaense. As adversidades não minam o sorriso da pescadora de votos. Mas ela se ilumina quando encontra um genuíno eleitor de seu marido. “Já ia votar no Geraldo. Agora que conheci sua esposa não tenho mais dúvidas. Ela é muito simpática e, ele, nossa última esperança”, dizia Eliane da Silveira, 26 anos, vendedora de uma loja de perfumes no centro da mesma Maringá.

A alegria e a espontaneidade da ex-primeira-dama paulista cativam até um público que não poderá auxiliar seu marido a diminuir a distância que o separa do candidato-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com caneta e uma folha de papel na mão, Luísa Marinho Martinon, de apenas oito anos, aguardava ansiosa pela saída da ex-primeira dama paulista do auditório do Colégio Londrinense, onde a esposa do presidenciável se reuniu com aliados na cidade do café. Além do autógrafo, Luísa queria manifestar seu “apoio” à candidatura Alckmin. “Eu vi o Geraldo na televisão. Ele e a dona Lu são muito legais. Eles vão fazer o que o Lula prometeu e não fez”, dizia a garotinha, que não conseguiu pegar o sonhado autógrafo. Seu pai chegou antes do evento terminar e a levou embora.

Cada apoio conquistado enche a ex-primeira-dama paulista de esperança. Ela acredita piamente na virada de Geraldo. Fé de quem é devota de Santa Rita de Cássia. A situação do tucano nas pesquisas, com pouco menos de 30% das intenções de voto contra quase 50% de Lula, pediria uma intervenção imediata da santa. Apesar da situação de emergência, dona Lu acredita que ainda não é hora de recorrer ao auxílio divino. “As pessoas estão conhecendo o Geraldo. Mas já estão percebendo que ele é o melhor candidato para governar o País. Eu tenho certeza que ele vai chegar ao segundo turno e ganhar a eleição. Certeza!” Como sabe que discurso não ganha ou vira eleição, dona Lu resolveu ir a campo. Santa Rita de Cássia está de plantão.