Todo cineasta tem seus atores preferidos. No caso de Cacá Diegues, em cartaz com o filme O maior amor do mundo, vencedor do prêmio máximo do Festival de Montreal, o parceiro ideal é José Wilker. O novo filme é o quinto trabalho conjunto de ambos. Antes, a dupla trabalhou em Xica da Silva (1976), Bye bye Brasil (1980), Um trem para as estrelas (1987) e Dias melhores virão (1990). “Eu não sei o que veio primeiro, se foi o trabalho ou a amizade. Dependemos um do outro”, diz Cacá. “Como o Wilker é muito inteligente, não preciso instruir de maneira indireta, é tudo direto ao ponto.”

O ator usa uma metáfora de circo para explicar o sucesso da parceria: “Nossa relação é como a do trapezista que se joga num salto triplo mortal com a certeza de que o outro estará esperando para dar a mão e segurá-lo.” Ainda assim, quando o cineasta entregou o roteiro para o ator, avisou: “Não se assuste. É uma coisa diferente das que você tem feito.”

Ao ler o perfil do protagonista Antonio, um astrofísico de meia-idade que recebe o diagnóstico de câncer no cérebro juntamente com a sentença de morte breve, a primeira impressão de Wilker foi: “Eu não sei como fazer isso; não sei que lado meu pode ser movido para fazer esse personagem.” Deu branco. Mas ele foi para os ensaios assim mesmo. “Eu estava sem nenhum artifício de interpretação. Mas, de repente, no meio das filmagens, eu percebi que o Cacá tinha conseguido puxar o personagem.” Em Bye bye Brasil, Wilker encarnava o mágico Lorde Cigano, que cruzava o País a bordo da Caravana Rolidei. Assim como o antigo sucesso, esse 16º longa-metragem de Cacá, que custou R$ 7,5 milhões e tem cerca de mil figurantes, é um road movie (filme de estrada). Só que, desta vez, a viagem não é pelo País e sim pela Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, onde Antonio vai atrás de suas origens.

O ponto alto de suas idiossincrasias é a descoberta, paralela, de que a vida pode estar acabando, mas ainda é possível ser feliz. Um dos fundamentos do filme, rodado em sete semanas, é o tema do instante. “É o otimismo trágico: sei que vou morrer, mas também sei que até o último minuto posso ter um instante de felicidade”, diz Cacá. Enfoca também a sociedade dos excluídos, dos “invisíveis”, como diz o cineasta. “Tenho muita curiosidade pelo povo brasileiro como possibilidade de cidadania.” A história explora bem esse filão ao contrapor o bem-sucedido Antonio com o moleque Mosca (Sérgio Malheiros), que trabalha como “vapor” (vendedor de drogas) do tráfico. Ambos representam realidades diferentes, com sua complexidade de emoções e sentimentos. Mas não inconciliáveis.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

 


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias