Surfe e religião. Eis uma relação que para muitos pode soar estranha. Mas as duas atividades, para um grande grupo de surfistas brasileiros, fazem parte da mesma onda. Esses atletas parafinados surfam nos ensinamentos da Missão Surfistas de Cristo no Brasil (MSC). A entidade, criada em 1989 nas praias de Olinda pelo pernambucano Dario Fraga, hoje agrega mais de mil praticantes do esporte que aliam manobras ousadas aos preceitos bíblicos. Além da fé cristã, essa tribo prega uma vida saudável, longe de hábitos associados à comunidade do surfe, como beber, fumar e consumir drogas. Para provar que o propósito é sério e não mais um papo de areia, a MSC está lançando a Bíblia do surfista. Baseado no Novo Testamento, o livro é um manual de conduta espiritual para os que crêem na perfeita fusão entre o céu e o mar.

O lançamento da Bíblia será uma das principais atrações da 7ª Conferência Internacional dos Surfistas de Cristo, que acontecerá em Ubatuba, no litoral norte paulista, entre os dias 17 e 22 deste mês. Pela primeira vez um país da América do Sul abrigará o evento, que contará com a presença de 150 surfistas cristãos de 20 países. Mas, ao contrário do que possa parecer, a Missão não é uma igreja evangélica, apesar de seus integrantes freqüentarem várias delas. Seu templo é a praia e o principal objetivo é alertar os brothers sobre as possíveis armadilhas que se escondem atrás de uma prancha. Quem explica é Sérgio Busatto, diretor nacional da MSC. “Nós somos um grupo de surfistas que acredita e divulga os princípios cristãos. O objetivo é conscientizar as pessoas da necessidade de preservar a natureza, respeitar o próximo e promover a fraternidade entre as pessoas”, diz.

No meio do surfe há quem tire onda com os atletas da Missão. “Sempre tem um lost (perdido, em inglês) que ironiza, acha que a gente é careta. Mas não estamos nem aí para eles”, comenta Busatto. Entre os brothers da tribo há profissionais consagrados, como os campeões brasileiros Jojó de Olivença e Renato Galvão. Outro integrante da Missão é a grande revelação da modalidade no País, o paulista Adriano de Souza, curiosamente apelidado de Mineirinho. No ano passado, ele faturou o WQS, a segunda divisão do surfe mundial. Lá fora, o mais famoso surfista de Cristo é o americano C.J. Hobgood, campeão do circuito mundial em 2001. As feras são consideradas exemplos para a nova geração de missionários. Para os grommets, como são chamados os surfistas imberbes, foi desenvolvido um trabalho de acompanhamento e conscientização para alertar sobre a ameaça de drogas, bebedeiras e noitadas. “A molecada se deslumbra fácil. Por isso temos que fazer um trabalho de irmão mais velho, além de colocar valores cristãos no coração dos grommets.” Tudo em nome do pai, do filho e do brother Jesus Cristo. Amém!