Cultura

Teatro
Concerto para automóvel
Espetáculo alemão faz sucesso ao destruir carros com marretadas ao som de música clássica

Ivan Claudio
 

i83585.jpgCom o aclamado espetáculo Auto- Auto!, em cartaz na Alemanha e que tem agenda internacional lotada até 2010, os músicos Christian von Richthofen e Rolf Clausen destroem literalmente por semana quatro carros usados. Na mesma linha dos musicais americanos Stomp e Blue man group, a produção usa carros como instrumento de percussão – só que para “tocá-los” são usados machados, marretas e afiadas serras elétricas. Apaixonado pelo som produzido pela carroceria do sedan Opel Kadett E, um modelo fabricado pela divisão alemã da GM (justamente a montadora mais afundada em dívidas neste momento de profunda crise mundial), Von Richthofen diz que ele é “o Steinway dos concertos de carros” (Steinway é a melhor marca de pianos).
A referência à música clássica responde pelo lado humorístico do espetáculo, que usa conhecidas peças de Wolfgang Amadeus Mozart e Piotr Illitch Tchaikovsky como contraponto à sinfonia de marretadas. A dupla já tentou apresentar-se com orquestra, mas todas recusaram o convite, apesar de o musical ser levado em teatros e casas de ópera. Antes de destruir o carro, eles começam a “reconhecer” o instrumento, tirando imprevisíveis sonoridades da lataria, dos vidros e das partes de borracha do veículo. O Brasil é lembrado no número em que os músicos fecham as portas do carro em sincronia com batuques que lembram um samba. No crescendo, começam a cantar em alemão algo que se parece com Samba de uma nota só.
Richthofen teve a idéia de criar o espetáculo há dez anos, ao trabalhar na recuperação de adolescentes agressivos e violentos em Hamburgo, sua cidade natal. Como os garotos adoravam quebrar os vidros de carro com tacos de beisebol, ele sugeriu que eles fizessem música a partir desse tipo de vandalismo. A iniciativa deu rock. Primeiro utilizou músicas de bandas metaleiras como Motörhead e depois passou para os temas eruditos. Em entrevista ao jornal inglês The Observer, Richthofen explicou que cada parte de um carro equivale a um instrumento percussivo: “O vidro dianteiro é um fantástico tambor, com o capô se consegue produzir sons de chuva e as portas são ótimas para marcar o ritmo.” Mas nem todos os carrões dão instrumentos de primeira. E, por incrível que pareça, quanto mais caro o veículo, mais ele desafina. “O Mercedes e o Porsche são um lixo porque a lataria é de material muito grosso”, diz ele. Daí a sua preferência pelo Opel e, na falta dele, Nissan Micra e Vauxhall Astra. Detalhe: no cotidiano, Richthofen detesta quatro rodas. Prefere andar de bicicleta, péssima, aliás, para a música.