O ex-ministro da Saúde Humberto Costa (PT) foi surpreendido ao saber que o delegado da PF Marcelo Moselli decidiu indiciá-lo, junto com 42 outras pessoas, por suposto envolvimento com a máfia dos vampiros. Para Costa, só há uma explicação para o fato: armação política. Segundo colocado na disputa pelo governo de Pernambuco, Costa contou que foi ele quem apresentou uma carta anônima, recebida em 2002, que denunciava todo o esquema. A Operação Vampiro foi uma ação da PF desencadeada em maio de 2004, que levou à prisão empresários, lobistas e servidores, acusados de manipular compras de medicamentos para o Ministério da Saúde, principalmente as de hemoderivados. As investigações da PF e do Ministério Público Federal concluíram que a fraude teria começado no Ministério no início dos anos 90, no governo de FHC.

ISTOÉ – Como o sr. explica seu indiciamento pela PF?
Humberto Costa –
Isso é uma coisa muito estranha. O fato aconteceu em 2004 e ao longo desse período o processo ficou parado. No final do ano passado, as investigações foram retomadas. Foram ouvidas várias pessoas. No final de junho deste ano, um dos vampiros (Laerte Correa Jr.), que foi preso na época e depôs na PF e na Justiça Federal sem mencionar o meu nome, resolveu procurar espontaneamente a PF para dar um depoimento. Nessa ocasião, ele disse que ouviu dizer que eu estava articulado com um grupo de pessoas da máfia dos vampiros para arrecadar dinheiro para o PT.

ISTOÉ – É só uma prova testemunhal?
Costa –
Esse indiciamento é uma coisa, no meu ponto de vista, estapafúrdia. Não
há prova material alguma contra mim. Não há nenhum outro depoimento contra mim. Só posso atribuir essa decisão de me indiciarem a um processo de armação política. Eu respeito a PF como instituição, mas nada impede que um delegado possa cometer um erro de investigação.

ISTOÉ – Isso afetou a campanha?
Costa –
O que está havendo aqui é uma exploração política absurda em cima
desse caso. Eu não fui julgado, tampouco condenado. Talvez a Justiça nem aceite esse inquérito. Mas o que se vê aqui é um linchamento público, político.

ISTOÉ – O que o sr. está fazendo para reverter esse impacto na sua campanha?
Costa –
Eu fui à Justiça e autorizei a quebra dos sigilos bancários, fiscais e telefônicos meu e de minha família para que possam investigar o quanto quiserem.

ISTOÉ – O tempo trabalha contra o sr.?
Costa –
Quero ser inocentado antes do pleito. Depois das eleições isso será uma decorrência natural do processo. Além disso, tenho mostrado na campanha o absurdo da situação.

ISTOÉ – De que forma?
Costa –
Fui eu que denunciei o esquema à PF, que resultou no processo dos vampiros. Tenho mostrado isso na tevê. A carta anônima que denunciava o esquema, que remeti à PF, citava um grupo de pessoas que mais tarde foi vinculado a mim no tal esquema de arrecadação do PT. Ora, seria o cúmulo da insensatez uma pessoa que é beneficiária de um esquema de corrupção denunciar esse esquema. E, além disso, denunciar as supostas suas pessoas no esquema. Isso não cabe na cabeça de ninguém. Por essa razão digo que se trata de uma armação política.

ISTOÉ – Com isso tudo, dá para ganhar a eleição?
Costa –
Eu tenho uma posição confortável nas pesquisas de opinião e a tentativa deles é de me destruir não apenas eleitoralmente, mas politicamente. E isso eu
não vou deixar.

ISTOÉ – O sr. recebeu apoio do presidente Lula?
Costa –
Sim, ele esteve em Caruaru, num comício, e me defendeu publicamente. Disse que era testemunha de que eu tinha sido o autor da denúncia que desmantelou a máfia dos vampiros no Ministério da Saúde. Máfia que operava
muito antes de eu ser ministro.

ISTOÉ – Esse apoio pode ser decisivo?
Costa –
Essa posição do presidente é muito importante.

ISTOÉ – No segundo turno, o sr. terá o apoio do candidato do PSB, o
ex-ministro Eduardo Campos?
Costa –

Temos um compromisso de que qualquer um que for para o

segundo turno terá apoio do outro.