Era um tempo de bossas: o sorvete Chicabon reinava supremo nas areias de Copacabana e o frescobol, que hoje atormenta os banhistas, era apenas um esporte sem vencidos ou vencedores. Pois é neste improvável cenário que, na década de 50, João Gilberto e Luís Bonfá cantam e tocam violão enquanto “paqueram” as garotas com seus biquínis enormes e ares de modernidade. A cena, inédita no Brasil, é uma das raridades dos sete programas mensais 7 X bossa nova, com estréia na quinta-feira 21 no canal a cabo DirecTV e reapresentações de 22 abril a 8 de maio.

O primeiro, A revolução musical, destaca o cantor, compositor e pianista carioca Johnny Alf, considerado um bossa-novista antes mesmo de o ritmo nascer. Como ele, também Marcos Valle, Carlos Lyra, João Donato, Celso Fonseca, Roberto Menescal, Joyce, Bossa CucaNova e Donatinho estarão interpretando clássicos. Mesmo gente que não era da bossa, como Elizete Cardoso, uma cantora de baladas, aparecerá entoando “vá minha tristeza e diga a ela que sem ela não pode ser…”.
Na “vitrola”, claro.

Entre os 46 depoentes da série está o produtor musical e letrista Nelson Motta, narrador de todos os programas, que fala do impacto do LP Chega de saudade, de João Gilberto (1959), considerado o marco zero da bossa nova. Sobre a voz, relembra que ficou confuso: “Eu não sabia o que era aquilo, se era homem, mulher, bicha…” Refeito, abençoa: “João Gilberto é o nosso pastor, nada nos faltará.” A cantora Olívia Byington completa: “Tem de ouvir Chega de saudade uma vez ao dia para ficar feliz.” Há uma homenagem à “Santíssima Trindade” Tom Jobim, Vinícius de Moraes e João Gilberto – que aparecem em todos os programas da série. A cantora Wanda Sá lembra que uma turma de músicos estava reunida quando Tom disse: “Está chegando meu professor.” Wanda conta que todos se entreolharam como que perguntando: “Meu Deus, quem seria professor de Tom Jobim?” Momentos depois, entra João Donato, que, sim, dava aulas para o mestre.

Com investimento total de R$ 2,1 milhões, a série, produzida pela Giros e dirigida por Belisário Franca, é resultado de pesquisas feitas nos Estados Unidos, na Itália, na França e no Japão, além do Brasil, e mostra encontros históricos entre Tom e Gerry Mulligan e entre Stan Getz e João Gilberto. O tímido Johnny Alf reconhece: “Tem coisa que eu até já tinha esquecido. Estou muito satisfeito com o resultado".