Pernambucano do Recife, onde nasceu em 1957, radicado em Basiléia, na Suíça, o músico Antonio Meneses apresenta em seu país As seis suítes para violoncelo de J.S. Bach (Teatro Cultura Artística, São Paulo, dia 25 suítes 1ª, 3ª e 5ª e dia 26, 2ª, 4ª e 6ª), que lançou internacionalmente em CD no ano passado – no Brasil pelo selo Clássicos. Sua carreira seguiu uma curva ascendente desde que ganhou a medalha de ouro do Concurso Tchaikovsky em 1982, o mais prestigiado do mundo. A partir daí vieram gravações pela prestigiada gravadora Deutsche Grammophon e concertos com orquestras importantes, como a Filarmônica de Berlim, sob a regência de estrelas do porte de Herbert von Karajan e Claudio Abbado. Em 1998 tornou-se integrante do Beaux Arts Trio. O grupo, fundado em 1954 pelo pianista Menahem Pressler e atualmente completado pelo violinista Daniel Hope, é considerado o máximo.

Antonio Meneses, que respondeu às perguntas de ISTOÉ a milhares de pés de altura, teclando em um laptop a bordo de um avião a meio caminho entre Los Angeles e o Havaí, onde o trio se apresentou, se encontra em um momento especial de sua carreira. Prova disso é a inclusão de peças que comentam as suítes compostas por brasileiros. Os chamados Comentários musicais são Etius melos – hommage a Bach (Suíte nº 1), de Ronaldo Miranda, Cantoria para violoncelo solo (Suíte nº 2), de Marlos Nobre, Praeambulum (Suíte nº 3), de José Antônio de Almeida Prado, Pequena seresta para Bach (Suíte nº 4), de Edino Krieger, Preludiando (Suíte nº 5), de Marisa Resende, e Invocatio nº 1 (Suíte nº 6), de Marco Padilha.

“De repente eu notei que praticamente não tinha nenhum contato com os compositores brasileiros”, diz Meneses. Para ele existem compositores de grande talento que precisam de intérpretes à altura. Os Comentários, que encomendou pessoalmente, são só o começo. Em maio, apresenta com a Orquestra Petrobras Pró Música o Concertino para violoncelo e cordas, de Clóvis Pereira, e promete para o próximo ano premieres de obras de Padilha (Campinas) e Krieger e, quem sabe, algo na área popular.

O músico, que começou a tocar aos dez anos obrigado pelo pai, trompista erudito, não acredita que a música popular deturpe os ouvidos, como pregam alguns conservatórios. Para ele, “só existe música de boa ou de má qualidade, tanto no ramo clássico como no popular. A diferença é que a música de um Beethoven ou um Shostakovich precisa de um estudo e um treinamento muito mais profundo que qualquer música popular jamais terá”. Quanto à validade de se estudarem os clássicos hoje em dia, é taxativo: “Isso é o mesmo que perguntar se a obra de um Michelangelo, um Cervantes e um Goethe ainda tem validade. Fazem parte da cultura universal e sempre haverá quem as aprecie".


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