Sessenta e quatro anos depois que o gol do uruguaio Ghiggia arrasou o país do futebol, o Brasil vai encarar o desafio de realizar sua segunda Copa do Mundo. Na terça-feira 30, a Fifa deverá confirmar o País como sede, em 2014, do mais famoso e caro evento do planeta. Estarão na Suíça para receber a notícia o presidente Lula e seis governadores. O tamanho da comitiva, que tem impressionado a Fifa, é proporcional à importância que o País dá à conquista. Com números megalômanos, 2014 povoa o sonho de revanche dos brasileiros e a planilha de investidores. Estima-se que a Copa de 2006 tenha injetado 8 bilhões de euros na Alemanha, com gastos de 3,9 bilhões de euros em rodovias e 3,58 bilhões em transporte urbano. Na África do Sul, o montante de investimento direto do governo será de US$ 2,6 bilhões. É por isso que muitas disputas já entraram em campo na Copa do Brasil.

As partidas deverão ocorrer em no mínimo oito e no máximo 12 cidades. Dezoito se apresentaram e dezenas de outras querem hospedar as delegações, o que deve gerar uma saudável corrida na melhoria de hotéis e serviços turísticos. Outra competição acirrada, envolvendo US$ 1,2 bilhão, será na privatização, modernização e construção de estádios. “O grande legado será deixar estádios e arenas mais atraentes para o brasileiro, aumentando o peso da venda de ingressos na renda do futebol”, prevê o ministro do Esporte, Orlando Silva. Para exemplificar como o evento acelera investimentos, ele cita o empenho dos governadores José Serra e Sérgio Cabral no projeto do trem-bala. Em sua viagem à Itália à caça de investidores, Cabral usou a Copa para seduzir bancos europeus.

O que mais pesou em favor do Brasil para a Fifa – que deverá investir US$ 400 milhões – foi o comprometimento do País em construir o cenário para a iniciativa privada jogar, além do sucesso do Pan no Rio. A Fifa alardeia que não quer verba pública nos estádios ou na organização. Os governos deram garantias de que farão sua parte na infra-estrutura e na derrubada de entraves burocráticos, como a flexibilização alfandegária. A coordenação do projeto financeiro foi de Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central, já consultado por 12 corporações interessadas em investir nos estádios. “O impacto no Brasil será muito maior do que foi na Alemanha e do que será na África do Sul”, diz Langoni.

Na última visita ao Brasil, a comissão da Fifa foi recebida por cinco governadores, além do presidente Lula. O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, nunca foi tão cortejado. José Roberto Arruda, do Distrito Federal, já ouviu de Teixeira que jamais a capital de um país ficou fora da Copa, mas os brasilienses disputarão a indicação com Goiânia, em cujo estádio, Serra Dourada, cabem 60 mil pessoas. “Vamos ampliar o Mané Garrincha de 30 mil para 90 mil”, prometeu Arruda.

No Nordeste, a briga é mais acirrada: Salvador, Fortaleza, Recife, Maceió e Natal. Salvador e Recife largam na frente, mas o governador do Ceará, Cid Gomes, não medirá esforços. “Cumprimos todas as exigências e temos obras aceleradas. Nada precisa ser iniciado, ao contrário de outros Estados”, provoca o secretário de Turismo, Bismarck Maia. O baiano Jaques Wagner já busca parceiros privados para aplicar R$ 300 milhões no estádio da Fonte Nova.

Um acordo já foi costurado entre Serra e Cabral para propor à Fifa que São Paulo abra a competição e o Rio feche. Paulistas e cariocas, no entanto, já se engalfinham. “O Maracanã não traz lembranças agradáveis”, diz o senador Aloizio Mercadante (PT-SP). O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) reage: “Mercadante não é um bom torcedor, pois não se lembra que o Santos, seu time, foi campeão mundial no Maracanã. Foi onde Pelé, do Santos, fez seu milésimo gol.” A bola, agora, está com a Fifa.