O empresário Luiz Estevão não era senador quando se envolveu no esquema que superfaturou a construção da sede do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) em São Paulo. Mas virou o primeiro senador cassado da história porque se verificou que ele mentira aos seus colegas quando negara qualquer envolvimento com o escândalo. Num sinal de que a lógica no Senado submete-se à conveniência, situação semelhante serviu na semana passada para que o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) se livrasse de um processo de cassação. Azeredo, de fato, não era senador quando se envolveu no esquema de caixa 2 que originou o mensalão tucano – era governador, disputava a reeleição. Mas, como ficou demonstrado por documentos publicados por ISTOÉ na sua edição 1978, de 26 de setembro, Azeredo, da mesma forma que Estevão, faltou com a verdade ao se defender das denúncias de envolvimento com o mensalão. No dia 26 de julho de 2005, quando surgiram as primeiras denúncias, Azeredo foi à tribuna do Senado e declarou: “Não avalizei qualquer empréstimo, não autorizei nenhum empréstimo, não era do meu conhecimento nenhum empréstimo”, disse ele, na ocasião, quando também negou qualquer proximidade com Marcos Valério de Souza, o operador dos mensalões tanto do PSDB quanto do PT. Pois bem, o que demonstra o inquérito da Polícia Federal, agora em análise na Procuradoria Geral da República, é que Azeredo sabia, sim, dos empréstimos. Notas fiscais e outros documentos demonstram ainda que dinheiro do governo de Minas irrigou a campanha. Governo que era administrado por Azeredo.

Por unanimidade, porém, a Mesa do Senado resolveu, na terça-feira 23, arquivar a representação do PSOL que pedia a cassação de Azeredo, exatamente com o argumento de que ele mentira ao Senado. Na mesma reunião, resolveu- se livrar o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) de uma sexta representação pedindo a perda do seu mandato. O que altera as situações de Estevão e de Azeredo é a diferença no clima político. Depois do pedido de licença de Renan, o Senado trabalha para distensionar as relações, e foge de possíveis novas situações de crise. Além disso, o governo hoje só se preocupa com uma coisa: aprovar a emenda que prorroga a CPMF. E, para tanto, o governo precisa de maneira vital dos votos do PSDB, partido de oposição que, ao contrário do DEM, acenou com a possibilidade de negociar o tema. Chegou a surgir, assim, uma suspeita de que os tucanos pudessem ter feito uma barganha com o governo: Azeredo fica em troca da CPMF. Tal acordo é negado veementemente por todos. E, talvez, não tenha acontecido. Mas é certo que o arquivamento do processo ajudou a melhorar a relação entre os governistas e os tucanos. Tal fato é admitido mesmo pelo senador Sérgio Guerra (PE), futuro presidente do PSDB. “É claro que, se abrissem um processo contra o Azeredo, o clima ia esquentar ainda mais”, diz Guerra.