Hoje quero compartilhar um pouco disso com você. No primeiro dia do Caminho, compramos comida e água para levar e fomos os primeiros a sair do albergue, em León. Eu e Fernanda, minha esposa, íamos caminhar aproximadamente 22 km naquele dia, e precisávamos garantir um lugar no albergue da próxima cidade.

Caminhamos 7 horas sem parar. Almoçamos andando e, com as mochilas de 9 kg nas costas, parecíamos cavalos comendo em pé. Hoje parece engraçado, mas, acredite, na hora era trágico, pois estávamos preocupados com o horário e em não conseguirmos percorrer a distância durante a luz do dia. Chegamos às 13h e fomos os primeiros a chegar no pequeno albergue de Villar de Mazarife.

Após chegarmos, fizemos o que viraria nossa rotina nos próximos 14 dias. Lavamos as roupas, tomamos banho e fomos almoçar nosso ‘menu peregrino’, para dormirmos cedo e acordar ainda noite e seguir o caminho. E assim passou a primeira semana. Acordando cedo e andando quase sem parar.

Nesta semana conhecemos várias pessoas que estavam no Caminho, em diferentes ritmos. Alguns faziam 15 km por dia, outros até 45 km. Nós, na média, estávamos fazendo 25 km e, inevitavelmente. eu me comparava com os outros. Passada uma semana, olhamos o mapa e nos demos conta de que estávamos adiantados. O trajeto que havíamos planejado realizar em 18 dias seria concluído em 12, se continuássemos no ritmo em que estávamos.

Neste dia, me dei conta de que de nada adiantaria chegar cedo em Santiago de Compostela, na Espanha, pois nossos vôos estavam garantidos para o 19º dia. Mais do que isso, o Caminho não era uma corrida ou prova de nada ou com ninguém. Era eu comigo mesmo e não contra mim mesmo. O objetivo não era o fim.

Naquela noite, refleti muito sobre isso. E decidi aproveitar o Caminho. E tudo mudou. Não me cansei tanto. Aproveitei a chuva quando chovia, o sol quando raiava, as subidas porque eram exercício e as descidas porque eram acompanhadas de visuais maravilhosos.
Curiosamente, passamos nossas vidas correndo em nosso caminho pessoal. Mas, tal como o Caminho, a vida não é uma corrida. Pior. Diferente do Caminho, não termina em Santiago. Antes do Caminho, acordava todos os dias com pressa. Passava grande parte do meu tempo pensando no amanhã. Nas coisas que seriam, mas muitas vezes não foram.

Aprendi, na prática, que por mais importante que seja o destino, o qual infalivelmente será o mesmo para todos nós, o grande segredo da vida é aproveitar o caminho. Seja ele uma subida na chuva, ou uma descida no Sol. Pois ele é tudo o que existe e vai existir. Como dizia Tom Jobim : "A gente só leva da vida a vida que a gente leva".