O guitarrista inglês Eric Clapton foi assistir ao nascimento do seu filho Conor num hospital em Londres, em 21 de agosto de 1986. Ficou fascinado quando os médicos colocaram o bebê em seu colo. Conor nascera de um relacionamento que ele tivera com a modelo italiana Lori del Santo, de quem já estava separado. Em 1991, no entanto, aos quatro anos, o menino caiu do 46º andar de um edifício em Nova York. A tragédia é contada agora pelo próprio Eric Clapton em Eric Clapton: a autobiografia (Planeta, 400 págs., R$ 44,90), que está chegando às livrarias do Brasil depois de causar alvoroço no Exterior. Entre outras revelações, ele conta que foi a partir do nascimento de Conor que ele conseguiu interromper as suas sucessivas internações em clínicas de desintoxicação de heroína e álcool, o que ocorria desde o final da década de 60.

Nessa época, o guitarrista já era considerado o melhor da Inglaterra e grafites em muros o consagravam com a frase: "Clapton is god" (Clapton é deus). A vida pessoal do músico, no entanto, era um caos. Ele havia trocado a dependência de heroína pelo vício do álcool, vivia relacionamentos amorosos desastrosos e chegou a tentar o suicídio. Uma das histórias que não se apagaram de sua mente foi o episódio em que Mick Jagger "roubou" a sua namorada. Isso levou Clapton a ter fantasias homicidas: "Entrei num estado de agitação mental e queria matá-lo. Passei muito tempo imaginando como faria isso. Era o tipo de fantasia insana que um alcoólatra em recuperação pode ter."

Nascido no subúrbio de Londres e fã do cantor de blues Robert Johnson, Clapton formou sua primeira banda aos 17 anos. Chamava- se The Rooters. Foi com The Yardbirds, no entanto, que ele se consagrou como guitarrista. Ele escreve que abandonou a banda quando ela decidiu seguir uma trilha pop mais água-com-açúcar. Quem o substituiu na época foi Jeff Beck, outro mito da guitarra. Depois de passar pelo John Mayall & The Bluesbrakers, Clapton formou com o baixista Jack Bruce e o baterista Ginger Baker o Cream, trio no qual ele se aperfeiçoou como guitarrista e cantor. Segundo ele, o fim do trio se deu em 1968 devido a disputas de egos.

Clapton se aventurou em novas parcerias musicais. No livro, ele lembra sua colaboração com George Harrison. É Clapton quem toca guitarra em While my guitar gently sleeps, do Álbum Branco dos Beatles. Chamá- lo teria sido uma forma de dar mais credibilidade a Harrison junto aos companheiros de banda. A amizade entre ambos, no entanto, durou pouco. Clapton e a então mulher de Harrison, Pattie Boyd-Harrison, se apaixonaram, e ela largou o marido para viver o novo amor. Foi para Pattie que Clapton compôs os clássicos Layla e Wonderful tonight. Aos 62 anos, o músico cuida hoje de um centro de reabilitação de dependentes fundado por ele há uma década. E não tem planos de parar de tocar. "Não posso abandonar as turnês. É uma espécie de vício e também uma responsabilidade que eu tenho com os fãs", escreve ele.