img1.jpg
CIRCUMSTANCES/ CIRCUNSTÂNCIAS/ Museu da Imagem e do Som, SP/até 21/3 

Gary Hill é considerado um expoente da produção artística contemporânea. Desde os anos 1970 problematiza a linguagem por meio de estados paradoxais que produz entre voz, texto, imagem em meios eletrônicos e a presença do ?outro?. Com curadoria de Marcello Dantas, a exposição ?Circumstances/ Circunstâncias? reúne cinco de suas videoinstalações, sendo uma delas inédita, desenvolvida especialmente para o Espaço Redondo do MIS, com cinco projetores de vídeo associados a cinco luzes estroboscópicas, entre outras mídias. ?Unconditional Surrender (Circumstance)? é um trabalho profundamente sensorial em que Gary Hill gera relações entre corpo, ambiente e imagem por meio do convite a uma ação participativa.

Nele, o artista faz com que o movimento de uma imagem seja fi sicamente tangível no corpo do visitante. É quando o objeto, uma animação digital da fi gura de um carretel, ao atingir a escala humana, produz explosões de luz de extrema claridade. Sob a forma de um gesto despadronizado, o objeto entra em entropia, promove um efeito do tipo after-image (que corresponde à sensação de cegar o olho) e simula sair da tela, se dirigindo frontalmente em direção ao espectador. Este, por sua vez, experimenta ser transpassado pelo objeto virtual, ou mesmo compartilha com ele um estado de suspensão do tempo. A obra promove uma momentânea cegueira, seguida de uma experiência tátil e circunstancial de fi sicalidade da imagem no corpo do receptor. Reivindica, com isso, um estado de crise, entendido aqui como reversão dos sentidos, ao abordar a tensão provocada entre a imagem no espaço físico e o corpo do visitante no espaço virtual.

Em ?Unconditional Surrender (Circumstance)? Gary Hill se apresenta, mais uma vez, como um artista dedicado a compreender os atos e processos midiáticos enquanto ações micropolíticas. Entende-se por isso não os pactos comunicacionais habilmente fi rmados pelos circuitos hegemônicos da mídia com o público, mas as noções de dissenso e de alteridade que tais mídias alcançam quando desviadas pela prática artística.

Christine Mello é crítica de arte e professora do mestrado em artes visuais da Faculdade Santa Marcelina e da Faap ? artes plásticas