Comportamento

A mestra dos sentidos
Cega aos 27 anos, Alexandra Elman aguçou olfato e paladar e se tornou enóloga

Carina Rabelo
 

i83717.jpgAlexandra Elman, 40 anos, uma americana filha de brasileira, é uma expert em vinhos e proprietária de uma das mais respeitadas casas do ramo dos Estados Unidos, a Marble Hill Cellars, em Nova York. A escolha por esse universo de sabores aconteceu depois que ela ficou cega, aos 27 anos. Alexandra perdeu a visão por complicações decorrentes da diabete, amargou por nove meses uma depressão, até que decidiu reagir.

"Precisava de uma profissão em que a falta de visão não atrapalhasse. Não conseguiria ficar em casa", lembra. O interesse pelos vinhos estava presente desde a infância, por influência do pai, o americano Lee Elman. Mas ela não imaginava levar a atividade como profissão. "Minha paixão mesmo era pilotar aviões, escalar montanhas e esquiar", conta.

Para começar a trabalhar após a perda da visão, o primeiro desafio foi tentar convencer o marido a mudar de uma bucólica casa de montanha em Massachusetts para Nova York, onde teria maior mobilidade, além de oportunidade para se estabelecer.

"Ele não quis me acompanhar e me divorciei, oito meses após o casamento", conta. Na metrópole, foi trabalhar com o padrasto, Basil Winston (a mãe é a brasileira Dorothea Elman), especialista em vinhos raros. Com a perda da visão, seu paladar e olfato, já educados, ficaram ainda mais apurados. A ponto de ela distinguir, atualmente, os vinhos pelas uvas e regiões de origem e, muitas vezes, acertar o ano das safras. O próximo passo foi escolher um companheiro realmente fiel. O eleito foi Hanley, um simpático labrador que se tornou um parceiro na escolha dos vinhos.

"Vinho é como arte, não existe certo ou errado. O importante é que seja autêntico à sua origem"

Alexandra Elman

"Quando entramos numa vinícola, ele começa a latir se há muita madeira no vinho. Então, eu nem provo", diz.

Desde 2002, Alexandra se dedica à introdução dos vinhos de diversas culturas na sociedade americana – a especialidade da Marble Hill Cellars são os importados. Entre os seus preferidos está o brasileiro Lídio Carraro, produzido em Caxias do Sul, premiado na Miami Internation Wine Fair. "Os americanos tomam o vinho que as revistas indicam. Eles estão muito preocupados em estarem certos na escolha. Isso não existe. Vinho é como arte, não existe certo ou errado. O importante é que seja autêntico à sua origem." Palavras de quem entende.