A personalidade e a obra de Clarice Lispector estão virando objetos de culto entre jovens, particularmente de adolescentes e universitárias. Pode soar contraditório, mas o fato é que essas moças, no auge do brilho juvenil, adoram essa escritora de personalidade triste, dona de uma literatura de forte melancolia e difícil compreensão. Ou, pelo menos, adoram citar Clarice em diários feitos para a internet. Uma varredura pela rede revela que a autora de A hora da estrela consegue mais de 260 mil referências entre blogs e fotologs, espaços virtuais típicos dos mais novos. Não é só isso. Nas livrarias também se nota uma certa demanda juvenil pela obra Clarice Lispector ? correio feminino (editora Rocco), uma seleção de textos publicados pela escritora em colunas e suplementos femininos da imprensa durante as décadas de 50 e 60. Na livraria Travessa, do Rio de Janeiro, é o público feminino em torno dos 20 anos que está comprando mais exemplares do livro. Dois meses após seu lançamento, a obra vendeu 15 mil edições, um número considerado bom para o mercado. Colocar a escritora no topo da preferência chega a parecer curioso quando se trata de gente tão nova. No caso da estudante Clara Carvalho, 19 anos, o incentivo veio desde pequena. Ela aprendeu a ler com a mãe, que usava nas aulas informais o livro A hora da estrela. ?Eu me identifico com as coisas que ela escrevia?, afirma a moça, que adora estudar e passa um terço de seus dias lendo. No Orkut, o site de relacionamentos que virou reduto de brasileiros, o nome da escritora está associado a 49 comunidades repletas de gente nova. Apenas para comparar: Cecília Meireles reúne nove espaços exclusivos para os fãs no Orkut e Vinícius de Moraes batiza 27 grupos. Por que tamanha popularidade? Ainda é difícil saber ao certo. Os internautas dizem, em linhas gerais, que quem lê Clarice vive intensamente. Pode ser. ?Ela tem profundidade, o que agrada aos jovens. Além disso, cultivava uma imagem de diva, o que atrai?, avalia Marisa Lajolo, professora de literatura da Universidade Mackenzie e autora do livro Como e por que ler o romance brasileiro. Paixão é, aliás, um sentimento comum a esses fãs. Fabiana Teixeira, 18 anos, conheceu o trabalho da escritora por meio de uma entrevista exibida pela TV Cultura. ?Achei tudo muito poético. Batizei minha gata de três anos com seu nome e nunca mais parei de ler a obra dela?, conta. Por sinal, essa entrevista já está no YouTube, o site de vídeos mais freqüentado pela juventude. Para deleite daqueles que se entregaram aos mistérios de Clarice.


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