De agora em diante, avós e pais em guerra com os adolescentes pelo excesso de tempo gasto em videogames e jogos de computador poderão receber uma resposta surpreendente: “Não reclame, isso faz bem até para a sua saúde.” Não é exagero. Estudos acadêmicos recentes mostram que esses jogos ajudam a melhorar o humor, aliviar a tensão, amenizar a solidão e, sobretudo, a exercitar o cérebro de pessoas da terceira idade e de adultos. Os especialistas perceberam os resultados em experiências feitas no Japão, na Europa e nos Estados Unidos, um país onde um em cada quatro jogadores de videogame já passou dos 50 anos. E as empresas especializadas começam a mirar esse público no Brasil. “Estamos surpresos com o interesse crescente das pessoas mais velhas por nossos games”, revela Ivan Kako, um dos gerentes da unidade brasileira da multinacional Electronics Arts, o maior grupo de criação e venda de jogos eletrônicos do mundo.

As primeiras descobertas foram feitas pelo japonês Ryuta Kawashima, um dos mais respeitados neurocirurgiões do mundo. Seus trabalhos levaram a Nintendo, uma gigante do setor, a apostar pesado, com produto específico, no nicho dos mais velhos. Recentemente, a fabricante lançou na Europa e nos Estados Unidos o Brain age: train your brain in minutes a day – em português, algo como Idade mental: treine o seu cérebro em poucos minutos diários. A função do programa, que roda no videogame portátil DS, é determinar a idade mental da pessoa e rejuvenescê-la. O jogo estabelece desafios com cálculos de matemática e propõe exercícios de memória e leitura de textos literários em voz alta. Este game, uma versão do Improve your DS Brain Age (Melhore sua idade cerebral DS), é inspirado nas pesquisas de Kawashima e faz grande sucesso no Japão. Nos Estados Unidos, Gary Small, diretor do Centro de Envelhecimento da Universidade da Califórnia, prepara uma série do que ele batizou de “jogos cerebrais” inspirados nos estudos do pesquisador japonês.

Os jogos, como constatam os especialistas, melhorou o humor e trouxe mais agilidade de pensamento para Patrícia Ann Parsloe. Todos os dias ela gasta pelo menos duas horas nos jogos em seu apartamento, em São Paulo. Às vezes se dedica aos consoles ligados na tevê, mas o seu game preferido é o The Sims, um jogo de computador em que o objetivo é montar uma família e administrar a casa da melhor maneira possível. Além dos resultados positivos para a mente, ela destaca outro benefício produzido pelo seu game predileto para as pessoas mais velhas do que ela. “Como é um jogo relacionado à formação de famílias, ele cria a sensação de não se estar sozinho”, constata. O empresário José Eduardo Antunes usou os games para agregar a turma em casa. Sua paixão é tão grande que ele, vencedor de vários torneios, acabou atraindo os dois filhos, de 32 e 30 anos, para o universo do joystick. “A gente invade madrugadas brincando. Todos ganham, todos perdem e, acima de tudo, todos se divertem”, conta sorrindo.

Mas nada supera em determinação e entusiasmo a americana Barbara Saint-Hilaire, 70 anos, os últimos 30 deles marcados pela dedicação diária de ao menos dez horas aos videogames. Tem uma imensa coleção de jogos, onde se destacam o Dead rising, para o console XBox 360, e o Resident evil, para a plataforma GameCube. Seu neto Timothy, 23 anos, nem de longe acompanha o ritmo da avó. “É assim que eu descanso e faço amizades”, diz ela. Os especialistas aprovam o movimento, mas pedem cautela para evitar alguns problemas. “Além da possibilidade do vício, os mais velhos devem se preocupar com problemas nas articulações que podem ser causados pelo esforço repetitivo”, alerta o pesquisador Gary Small. Esses jogos não podem ser perdidos.