Aos 27 anos, a triatleta e empresária Fernanda Schiliró atingiu o que os praticantes da modalidade definem como o topo. Em outubro, ela disputaria o Ironman do Havaí, um verdadeiro rali humano em que os atletas nadam quase quatro quilômetros, pedalam 180 quilômetros e, para finalizar, correm a distância de uma maratona ? 42 quilômetros. Mas o sonho de representar o País na Copa do Mundo do esporte se transformou em tragédia na manhã do domingo 10, no asfalto da rodovia Castelo Branco, em São Paulo. Fernanda pedalava no acostamento ao lado de dois atletas quando perdeu o controle de sua bicicleta ao se chocar com uma sinalização de solo, o conhecido olho de gato. Na queda, ela foi arremessada para uma das faixas da pista e atropelada por uma kombi e, em seguida, por um ônibus que vinha atrás. Segundo conclusão de um estudo francês, o ciclismo é o terceiro esporte que mais provoca mortes, atrás do vôo livre e do alpinismo. Se mundo afora ele já é uma atividade de risco, no Brasil a prática ganha contornos dramáticos. As más condições das pistas, a falta de cidadania dos motoristas e, por vezes, a negligência dos adeptos formam uma combinação mortal. No caso de Fernanda, aliou-se um quarto e imponderável ingrediente: a fatalidade. ?Foi uma infelicidade. Ela fazia tudo certo. Pedalava entre dois atletas e com o suporte de um carro de apoio?, diz Carlos Galvão, organizador do Ironman Brasil, a etapa brasileira do circuito mundial da categoria. Lá fora, os atletas de ponta também treinam em estradas e rodovias. É nelas que adquirem ritmo e resistência para enfrentar as duras condições das provas. Mas acidentes acontecem. No mesmo final de semana em que Fernanda morreu, dois atletas italianos perderam a vida em condições semelhantes. No Brasil, em 2004, segundo o Ministério da Saúde, 1.389 pessoas morreram em acidentes com bicicletas no País, muitas delas em rodovias. Boa parte da elite do triatlo brasileiro já foi vítima de atropelamentos. Entre eles nomes como Alexandre Manzan e Mariana Ohata, atletas que representam o País em competições internacionais. Exceção é a carioca Fernanda Keller. A dama de ferro do triatlo toma uma série de precauções para não entrar para o indesejável clube. ?Treino bem cedo, cuido do meu equipamento e procuro fugir das estradas cheias. É o único jeito de praticar o esporte com segurança?, afirma a recordista brasileira em participações no Ironman do Havaí. Fernanda costuma tomar também um outro cuidado que nem sempre está nos manuais esportivos ou de trânsito ? algo que faz uma grande diferença em situações de emergência. ?Procuro ser educada. Se alguém buzina e me xinga, cumprimento e dou tchauzinho.? Ninguém é musa por acaso.