O ex-presidente Fernando Collor costuma contar uma história que revela algo sobre a personalidade de José Serra. Diz ele que, em determinado momento de seu governo, chegou a convidar o tucano, numa conversa a sós, para que assumisse um ministério da área econômica. E estava certo de que a oferta seria aceita porque todas as sondagens preliminares já haviam sido feitas. Serra, no entanto, o surpreendeu. Disse que não poderia dar a resposta antes de um encontro importante que teria em São Paulo. Com quem? O chefe do partido? Não, com seu psicanalista, um terapeuta freudiano. Hoje, o divã de Serra é a internet. E é no Twitter que ele descarrega suas angústias. Foi lá que o governador paulista se manifestou pela última vez sobre seu eterno dilema:  anunciar ou não a disposição de lutar pela Presidência da República? Na madrugada do dia 24 de janeiro, ele escreveu: “Muitos aqui me perguntam sobre candidatura futura. Sabiam que pode ser ilegal dizer-se agora  pré-candidato a algum cargo?”.

Ocorre que a indecisão de Serra não tem nenhuma relação com aspectos legais. Seu anúncio vem sendo empurrado com a barriga porque ele quer ter certeza absoluta da vitória. O que significa que o homem que lidera todas as pesquisas ainda tem medo da derrota – um receio que deve ter aumentado depois das sondagens da Vox Populi e do CNT/Sensus. Fosse um jogador de futebol, Serra seria aquele que o técnico jamais deveria escalar para bater um pênalti num jogo decisivo. Ele desmaiaria antes da cobrança. Mas Serra é um político. E, ainda que a prudência seja uma virtude, não há exemplo de homem público que tenha conquistado algo realmente grande sem uma boa dose de audácia. Ousadia, atrevimento e coragem são  atributos essenciais do líder. Nem sempre garantem o sucesso, mas o fato é que o medo da derrota é o caminho mais curto para o fracasso. Na política, como na vida, vence aquele que enxerga uma oportunidade e se agarra a ela. Perde quem pisca. A insegurança talvez seja o calcanhar de aquiles de Serra.

E é o ponto mais explorado por seus adversários. Há um burburinho de que Serra desistirá. Acabará amarelando e fugindo da raia. Mas o que falta, no divã eletrônico do governador, é um Franklin Roosevelt que lhe diga que a única coisa a temer é o próprio medo. Ou um Milton Nascimento que cante “nada a temer senão o correr da luta”. Sem audácia, Serra poderá terminar como o Riobaldo, de Guimarães Rosa. Aquele que disse: “Medo não, perdi a vontade de ter coragem.” Talvez até porque seu verdadeiro medo seja o da vitória – e não o da derrota.