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NO MURO
Até revista inglesa ironiza indecisão de Serra

Dizem as raposas da política que pesquisas de opinião são meros retratos instantâneos, que servem mais à imprensa do que propriamente aos candidatos. Mas os recentes lances da sucessão presidencial contrariam a tese. Na última semana, além dos transtornos causados pelas enchentes em São Paulo, o governador José Serra teve outro forte motivo de preocupação. Consultas dos institutos Vox Populi e CNT/Sensus apontaram o crescimento da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, candidata do PT, para 28% e a estagnação de Serra, précandidato do PSDB, na casa dos 33%. Um dos cenários mostrou empate técnico e até pequena vantagem de Dilma na pesquisa espontânea. Foi o suficiente para que Serra voltasse a ser pressionado por DEM, PPS e setores do PSDB a assumir sua candidatura. Em conversa reservada com correligionários, o presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ), reclamou da inércia de Serra. “O governador assiste impassível à campanha de uma única candidata”, lamentou Maia, segundo um dos presentes. “A Dilma vai subir mais e passar dos 30%. A eleição será dura e fria. Mas não faço apostas no momento, é prematuro”, disse à ISTOÉ o dono do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, que já foi mais otimista quanto ao desempenho de Serra. Não são apenas os partidos de oposição que pressionam o histórico tucano a botar logo o bloco na rua.

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EM ALTA
Dilma: abril é o prazo para atingir o primeiro lugar nas pesquisas

A edição desta semana da revista inglesa “The Economist” aconselha Serra a lançar a campanha se ele tem pretensão de vitória. “O caótico sistema multipartidário brasileiro é perverso com quem vê o trem passar e não sobe nele”, alerta o texto. “Serra precisa começar logo, se não quiser ser lembrado como o melhor presidente que o Brasil nunca teve”, acrescenta a revista. Até agora, porém, há mais indefinições do que certezas no PSDB. A própria cúpula tucana admite que a campanha poderia estar mais bem estruturada, com a militância em ação. “A essa altura, o ideal é que a juventude do PSDB estivesse se articulando  dentro das universidades e nas redes sociais da internet”, disse um cacique do PSDB à ISTOÉ. Enquanto Dilma já dispõe de uma equipe perma nente que se reúne toda semana para discutir os rumos de sua candidatura, o PSDB ainda não sabe sequer quem coordenará a campanha. Os aliados dos tucanos reclamam que, hoje, Serra discute estratégia com um grupo muito restrito de pessoas. Como agravante, o tesoureiro da legenda, o ex-deputado Márcio Fortes, que centralizaria a arrecadação, deixou a tarefa de lado para concorrer a vice na chapa de Fernando Gabeira (PV), no Rio de Janeiro. É evidente que ninguém no PSDB nem no DEM ou no PPS defende que Serra saia pelo País em franca campanha antecipada,  o que seria umdesrespeito à lei eleitoral. Mas os aliados de Serra cobram mais mobilidade. Particularmente o DEM acha que o tucano deveria fazer o imediato contraponto a Dilma.

ATRASO
O PSDB ainda está sem coordenador de campanha e o DEM cobra embate direto com o PT

Tarefa, por enquanto, delegada ao presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), que tem se mostrado mais aguerrido do que nunca. Além da proverbial indecisão de Serra, as enchentes em São Paulo também  funcionam como fator limitador a suas ações fora do Estado. A intempérie fez com que o pré-candidato do PSDB deixasse em suspenso sua agenda no Carnaval. Convidado para engrossar o tradicional bloco pernambucano Galo da Madrugada no sábado 13, o governador, em conversa com Sérgio Guerra na semana passada, condicionou sua participação à normalização da situação na capital paulista. “Está muito complicado. Só vou se o tempo ajudar, mas será difícil”, disse Serra. “O governador Serra não vai deixar São Paulo para fazer campanha porque ele tem responsabilidade com a gestão”, sustenta o novo líder do PSDB na Câmara, deputado João Almeida (BA). Mesmo que não caia na folia, Serra já está desgastado com o efeito negativo das enchentes. Na avaliação do cientista político Rubens Figueiredo, o custo eleitoral das chuvas será inevitavelmente debitado em sua conta pelos adversários. “A oposição vai dizer que, em relação às chuvas, o governador e o prefeito não fizeram a sua parte. O PSDB está há 15   anos à frente do governo do Estado e isso ajuda nos ataques”, afirma Figueiredo. Animado com a evolução da précampanha, o staff de Dilma aproveita o resultado das pesquisas e a resistência de Serra em assumir a candidatura para dar asas à especulação de que ele poderá desistir de concorrer ao Planalto, optando por uma reeleição tranquila e confortável em São Paulo. “Avaliamos que Serra ainda não definiu seu destino eleitoral. Talvez ele ainda desista da corrida presidencial”, disse à ISTOÉ um ministro próximo a Lula, quase em tom de comemoração.

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DE JEITO NENHUM
Aécio reage a FHC e nega que será vice

Para um dos principais coordenadores da campanha da ministra, o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, a oposição tem motivos para estar “desesperada”. “Já trabalhávamos com esses números de hoje. E a expectativa agora é que, em abril, estejamos empatados em primeiro”, prevê ele. Na tentativa de abafar os rumores de uma eventual desistência, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez circular, em conversa com aliados, que o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, aceitaria ser vice de Serra. A dobradinha, de fato, colocaria a candidatura tucana em outro patamar. “Acho a dupla Aécio e Serra imbatível e essa onda tem crescido nos últimos dias”, disse o deputado Ronaldo Caiado  (DEM-GO). Mas, na quinta-feira 4, o próprio Aécio tratou de encerrar a questão. “Quanto ao  futuro, fiz uma opção muito clara hoje. Serei candidatoao Senado da República por Minas Gerais e no Congresso quero dar continuidade ao trabalho que iniciamos aqui, defendendo lá os interesses de Minas”, disse. Aécio tem repetido também que vai dedicar toda a sua energia para eleger como sucessor seu vice Antonio Anastasia e, assim, “não permitir que haja um retrocesso em Minas”. Convencidos de que as articulações da campanha poderiam estar mais avançadas, os tucanos decidiram intensificar a formação dos palanques estaduais.

INSATISFAÇÃO
Aliados reclamam que Serra discute estratégia só com grupo muito restrito

“Já era tempo. Não podemos deixar para a última hora”,  justificou João Almeida. Neste fim de semana, Sérgio Guerra esteve no Paraná tentando resolver o impasse entre o senador Álvaro Dias e o prefeito de Curitiba, Beto Richa, ambos interessados em se candidatar ao governo estadual pelo PSDB (leia reportagem na página 42). Outra prioridade é a região Nordeste. No Ceará, o PSDB trabalha para lançar ao governo o empresário Beto Studart, que tem o aval do senador Tasso Jereissati. No Piauí, o partido quer fortalecer o nome do prefeito de Teresina, Silvio Mendes, possível candidato  do PSDB ao governo do Estado.Para turbinar a campanha tucana, as negociações nos Estados não ficarão apenas na formatação das alianças. “Vamos investir dinheiro nas campanhas locais, ao contrário do que aconteceu na eleição de 2006”, confidenciou  à ISTOÉ um tucano de alta plumagem. O PSDB tenta fazer sua parte. Falta, porém, Serra demonstrar apetite político e resolver investir na própria candidatura. 


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