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SORRISOS Beatriz, César, Laura, Maria Clara, Júlio e Rayssa estão em tratamento há mais de dois anos

Júlio, 11 anos, usa aparelho desde os oito para corrigir a mordida. Beatriz, dez anos, colocou há um ano para estreitar os espaços entre os dentes. Luís Felipe, seis anos, recebeu um aparelho móvel para ampliar a arcada dentária. Já sua irmã, Bruna Ganem, nove, teve perda precoce de dentes de leite e convive com um aparelho extrabucal para reposicionar os molares. Eles são a cara de uma geração que começa a freqüentar os consultórios cada vez mais cedo para corrigir o posicionamento dos dentes com aparelhos ortodônticos. Tornou-se comum – quase parte do uniforme da garotada – exibir o sorriso metálico e com elásticos coloridos proporcionado por esses recursos.

Curiosamente, a principal motivação dos pais brasileiros para levar seus filhos ao especialista ainda é mais a aparência do sorriso do que a saúde bucal, afirma o especialista Guilherme Janson, chefe do Departamento de Odontopediatria, Ortodontia e Saúde Coletiva da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, campus de Bauru. Em geral, essa visita acontece quando aparecem cáries ou dentes tortos.

Independentemente da razão, o fato é que os pais deveriam fazer a consulta inaugural por volta do primeiro ano de vida. Nesta fase, já é possível identificar se a criança respira pela boca – em vez de ser pelo nariz – e se apresenta modificações da mordida por causa da chupeta ou sucção do dedo. Poucos sabem, mas o que acontece na região da boca realmente pode ter sérias repercussões sobre a saúde geral. Para facilitar a errônea respiração oral, por exemplo, a criança projeta a cabeça para a frente, o que leva ao desalinhamento da coluna cervical. Com o crescimento, essas alterações terão reflexo na expansão dos ossos maxilares (nos quais os dentes se apóiam). Isso pode desencadear o encavalamento dos dentes e muitos outros problemas. A grande vantagem da consulta precoce, portanto, é descobrir e cuidar desses desajustes com a ajuda de diversos profissionais, como os fonoaudiólogos, antes que eles compliquem o desenvolvimento e tratamentos futuros.

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PREVENÇÃO Luís Felipe e a irmã, Bruna, foram ao especialista aos cinco anos

Porém, ainda que algum problema tenha sido detectado, é raro os especialistas indicarem aparelhos antes dos cinco anos. “Quando as crianças são muito pequenas, elas não entendem o que precisa ser feito e não conseguem tomar os cuidados necessários com o aparelho”, explica o ortodontista Fábio Bibancos, de São Paulo. Mas a partir desta idade a colaboração da criança já é maior e isso melhora as chances de sucesso na correção. É nesta fase que deve começar o ajuste de alterações que envolvem o reposicionamento não só dos dentes, mas também dos músculos e ossos da face.

Outra boa oportunidade de levar o filho ao ortodontista é a chegada dos dentes permanentes, momento que muitos profissionais escolhem para fazer ajustes. Mais uma chance é o despontar dos dentes definitivos restantes, entre os 11 e os 12 anos. “Deve-se ir ao especialista antes que irrompam os últimos molares. É uma fase crítica para colocar o aparelho fixo”, diz Sebastião Interlandi, da Universidade de São Paulo, uma autoridade no assunto. A esta altura, também não é raro convocar outros profissionais. “Mesmo depois de tirar o aparelho, há uma tendência de a criança ou jovem continuar a respirar pela boca ou mastigar de forma inadequada, o que prejudica o tratamento. Exercícios ajudam a corrigir isso”, diz Esther Bianchini, especialista em motricidade orofacial, de São Paulo.

Mas quem já foi ao consultório de um especialista provavelmente deu-se conta de que a quantidade de recursos da odontologia é proporcional às divergências sobre a melhor forma de aplicá-los. A única certeza é que a estratégia só pode ser definida após uma rigorosa avaliação. Entre os métodos mais modernos estão os miniimplantes, úteis a partir dos dez anos. “Trata-se de parafusos de titânio de cerca de oito milímetros fixados no osso para tracionar alguns dentes para trás, sem necessidade de aparelhos maiores”, explica Janson. Outra técnica alterna períodos com e sem aparelho. Nesta metodologia usada para consertar o apinhamento dos dentes, coloca-se o artefato por volta dos oito anos e retira-se em cerca de nove meses. A finalidade é acertar os espaços para receber os dentes permanentes que virão. Depois, a criança faz consultas semestrais até o ajuste final, por volta dos 13 anos. A vantagem é passar parte da adolescência sem o corretivo.

COMO RESTAURAR O EQUILÍBRIO
Conheça os problemas que levam as crianças aos consultórios e as soluções. A escolha do tratamenro depende de uma avaliação bem-feita.