FOTOS: PAULO JARES/AG. ISTOÉ

SUOR E CERVEJA Estudantes do Texas ensaiam passos de samba em um dos 70 camarotes do Salgueiro, que custam R$ 400 cada um: agito para seis mil pessoas

Dezoito estudantes do Austin College, no Texas, se comprimem nos quatro metros quadrados de um camarote na quadra da Acadêmicos do Salgueiro, na Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro. Mexem os quadris em ritmo duvidoso e levantam os braços alternadamente para tentar acompanhar a marcação dos surdos. Quase tudo é vermelho ou branco, cores da escola, e seis mil pessoas, da Europa às favelas do Maciço da Tijuca, derretem de calor. Pioneiro, o Salgueiro instalou um sistema de refrigeração há dois anos, mas, quando alguma máquina pifa, ninguém encontra o homem da manutenção. Por causa do isolamento acústico, exigência dos vizinhos, as janelas ficam fechadas, elevando ainda mais a temperatura. Um forno musical. Mas nada que uma cerveja gelada, o clima de paquera e o embalo de uma das melhores baterias da cidade não compensem. O Texas também é muito “hot”, consola-se Katlin Elledge, 18 anos. “Very good! I love Rio!” E assim o samba vai até de manhã, juntando gregos com troianos, ipanemenses e tijucanos no programa mais badalado do verão carioca.

“É uma quadra-boate. Todo sábado, a galera da zona sul deixa a Baronetti e a Nuth (boates de Ipanema e da Barra da Tijuca) para azarar e mostrar a marquinha de biquíni aqui”, descreve Flávia Sirino, diretora do Salgueiro. Na pista e nos 70 camarotes (R$ 400 reais cada um), turistas e moradores de todos os bairros transformam a quadra do Salgueiro, como a de outras escolas de samba, em praças de confraternização universal, quase sempre dentro ou vizinhas a favelas. “É muito bom receber a cidade inteira, principalmente os gatinhos da zona sul”, diz a babá Flávia Santos, 24 anos, moradora do Borel, favela da Tijuca. Ela conta que dificilmente volta para casa sem dar “uns três amassos pelo menos”. Já Gabriel e Nina Mothé, ambos de 21 anos, casados e moradores da Barra da Tijuca (zona oeste), optam pelo camarote. “Se eu fosse solteiro, iria correndo lá para baixo”, diz Gabriel, de olho comprido no vai-e-vem da quadra. Nessa época, o jovem casal troca as boates da Barra pelo calor do samba. “Eu danço e ele só bebe”, diz Nina.

Nas quatro vezes em que foi a uma escola de samba, o engenheiro Álvaro Salgado, 26 anos, já ficou com duas “gatas”. Não é muito, mas não se considera no prejuízo. “Acho bem razoável ter 50% de aproveitamento”, brinca o morador do Flamengo (zona sul). Seu vizinho e colega de profissão Ronan Vieira, 27 anos, iria à Mangueira, mas, em função dos episódios recentes de tiroteio na favela, optou pelo Salgueiro. “Aqui é tranqüilo, sem problemas. Sobre azaração não posso falar porque minha namorada é aquela ali.”

Os comprometidos não são os únicos privados do clima de paquera, que esquenta à medida que a madrugada avança. A produtora de tevê Marcela Leone, 26 anos, começou a desfilar em 2005 e gostou tanto que há dois anos entrou na bateria. Enquanto os amigos se divertem na pista, ela resiste no chocalho durante a maior parte do tempo. Só desce quando é rendida, quase no fim da festa. “Quando dá tempo, rola uma azaração, mas o objetivo maior é o samba. O clima é muito bacana, com gente de tantos lugares”, afirma. Sua amiga e colega de bateria Rafaela Mota, 28 anos, mora em São Francisco Xavier (zona norte) e também não economiza energia na defesa da escola, que já recebeu Sting e Rod Stewart. Segundo ela, “nada paga o prazer de mergulhar nesse ritmo e de conviver com pessoas tão diferentes”. A bateria dá uma paradinha, deixa só a cuíca soar e logo volta com força total. Os olhos de Rafaela e Marcela brilham. A quadra vibra – e transpira – junto.

SAI A CALCINHA, ENTRA O SHORTINHO

MODELITO Short: fim da polêmica com os fotógrafos

A minissaia está em baixa – pelo menos nos ensaios das escolas de samba do Rio de Janeiro. O ritmo, agora, é das bermudas e dos shortinhos. O novo uniforme deixa a foliã mais confortável e pode ser a solução para a eterna polêmica das mulheres que são flagradas com a calcinha aparecendo (por causa das saias mínimas) e depois se dizem magoadas e ameaçam processar os fotógrafos. A bióloga Carla Isis, 30 anos, adotou os dois: quando os requebros mais largos suspendem seu minivestido, aparece um shortinho por baixo. “As que usam só a minissaia não deveriam processar ninguém. Elas sabem que estão sujeitas a mostrar a calcinha”, ensina. A assistente administrativa Alessandra Quitério, 25 anos, tem o corpo bem cuidado, mas também é adepta do shortinho. Nos aquecimentos do Carnaval, o mais comum é a miniblusa com um short confortável, que não cria obstáculos aos movimentos dos quadris.