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SEM PARAR
2010 será decisivo para o tenista, que tem o mesmo treinador de Guga

"O pessoal costuma brincar que raio não cai duas vezes no mesmo lugar”, diverte-se Paulo Carvalho, ex-empresário de Gustavo Kuerten e figura conhecida no mundo do tênis. “Mas na academia do Larri, em Camboriú, parece que caiu.” Carvalho se refere a Larri Passos, o técnico que ajudou a forjar Guga, o melhor tenista da história do Brasil. Além de competente, o treinador tem estrela. Há dois anos caiu nas suas mãos uma nova promessa, que começa a ensaiar grandes feitos nas quadras. Vindo de Maceió, a três mil quilômetros de distância, o alagoano Tiago Fernandes, hoje com 17 anos, despontou cedo para o mundo ao vencer, no dia 30 de janeiro, o torneio juvenil do Aberto da Austrália, um dos quatro que formam o Grad Slam, circuito mais nobre do esporte. A conquista é inédita: foi o primeiro brasileiro a ir tão longe na categoria. Mas se a vitória acelerou o ingresso de Tiago no panteão desse esporte, também adiantou as preocupações com uma complicada transição pela qual o jovem passará em breve: a de jogador da categoria juvenil, em que atua hoje, para a de profissional. São poucos os que conseguem superá-la. O garoto Tiago está bem credenciado para vencer também este desafio. Nas quadras de Melbourne mostrou frieza e determinação para derrotar, na final, um tenista da casa. Já havia revelado do que era capaz ao trocar a companhia dos pais por uma vida de sacrifícios, treinos duros (quatro horas de atividades, seis vezes por semana) e viagens sob o comando de Larri Passos. Este, por sua vez, tem o conhecimento suficiente para guiar o novo pupilo nesse momento delicado.

Sua primeira decisão após o título de Tiago na Austrália foi recusar um convite para que o tenista ingressasse direto na chave principal do Brasil Open, que acontece na Costa do Sauípe (BA) entre os dias 6 e 14 de fevereiro. Preferiu escalá-lo na classificatória. A decisão foi elogiada. “A atenção para o preparo físico e psíquico é fundamental nesse momento”, explica o ex-tenista e comentarista Dácio Campos. “As realidades do juvenil e do profissional são muito distantes.” Uma comparação das estatísticas das finais juvenil e profissional no Australian Open dá uma dimensão dessa distância. Na decisão dos adultos, por exemplo, a velocidade média do saque do escocês Andy Murray, vice-campeão, foi de 196 km/h. Na final juvenil, Tiago chegou uma única vez a 195 km/h, seu saque mais potente. Além disso, no circuito profissional os jogos tendem a ser mais demorados, impondo uma carga de stress físico e psíquico significativamente maior sobre o jogador. Enquanto a final juvenil do Australian Open acabou em 110 minutos, a profissional levou 161 minutos.

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“O equilíbrio na hora da transição é fundamental”, afirma Paulo Cleto, que foi diretor da equipe olímpica de tênis brasileira em Seul (1988), Barcelona (1992) e Atlanta (1996). Se o atleta se expõe ao vale-tudo do mundo profissional muito cedo, há grandes chances de que sua confiança seja comprometida ou que ele se machuque com o ritmo dentro e fora das quadras. Em contrapartida, uma transição atrasada e lenta pode deixar o esportista desmotivado. O resultado pode ser um tenista com potencial desperdiçado, acomodado nas posições 200 ou 300 do ranking mundial da ATP. Por isso, Larri Passos tem um plano traçado para Tiago. “Ele vai mesclar torneios nas duas categorias e em 2011 vamos ver sua evolução”, diz. O Brasil torce por ele, mas sem pressa.

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