Nascida aos seis meses de gestação com 940 gramas, Aline Victoria, hoje com dez meses, teve de lutar muito para sobreviver. Nos primeiros 15 dias de vida, não respirava sem a ajuda de aparelhos. Seus 60 dias iniciais de vida foram passados em uma UTI neonatal. Esse tempo prolongado na incubadora, recebendo oxigênio e iluminação artificial, prejudicou a visão e a mobilidade. Mas isso os médicos só constataram após lhe darem alta, no retorno para exames regulares. Ela já estava perdendo a visão dos dois olhos. Segundo a mãe, Marina Pinto, Aline não sorria porque não via as brincadeiras dos pais, e não se mexia muito por ter seus músculos rígidos. A cirurgia nos olhos foi realizada em março, resolvendo o problema na visão. Já o problema muscular Aline começou a solucionar há duas semanas, graças a uma iniciativa pioneira no País do Hospital de Taguatinga, em Brasília. Aline é um dos 40 bebês que participam do Projeto Neonadando. No trabalho, é usada a hidroterapia, uma técnica de reabilitação física feita na água, para ajudar na recuperação das habilidades dos prematuros. “Não é só tratar a criança que nasce com 600 gramas e mandá-la para casa. Queremos que ela ganhe um padrão de desenvolvimento comparável ao de bebês não-prematuros”, afirma a pediatra Sônia Salviano, uma das coordenadoras do projeto. Já se sabia que atividades na água são excelentes para os bebês de modo geral. Elas ajudam no aprimoramento da coordenação motora, no desenvolvimento respiratório e até na criação da autoconfiança. A novidade é o uso do recurso para os prematuros. Muitas vezes, esses bebês manifestam dificuldades diversas resultantes do fato de terem nascido mais cedo. Uma delas envolve os pulmões. No momento do nascimento, eles ainda não estão maduros o suficiente. “Por isso, logo após o parto as crianças são submetidas à oxigenação por muito tempo, o que pode levar ao enrijecimento muscular”, explica a terapeuta ocupacional Marta Gonçalvez. Nesses casos, os exercícios e as brincadeiras na água fortalecem a musculatura da caixa torácica. O resultado é que os pulmões também funcionam melhor, prevenindo o surgimento de doenças como a asma. Nos dois meses de existência, o projeto, aberto para bebês com mais de três meses, apresenta bons resultados também em outras áreas. A hidroterapia fortalece as articulações de braços e pernas dos pequenos, também prejudicadas pela prematuridade, melhora a capacidade cognitiva e contribui para a socialização do bebê. Ana Luiza, de um ano e quatro meses, é um retrato desses benefícios. Desde que começou a fazer hidroterapia, há um mês, não tem mais gripes e crises de bronquite, freqüentes até então. Seu corpo, antes rígido e de poucos movimentos, está mais flexível. E Ana até já ensaia os primeiros passos.