Ao lado da paixão por atuar, Paulo Betti sempre namorou firme outro palco: a política. Enquanto colecionava elogiadas atuações em filmes como Lamarca, Guerra de Canudos e Mauá, o ator montou seu perfil participando de eventos eleitorais do PT e formando um time de artistas militantes com colegas como Lucélia Santos, Sérgio Mamberti e Bete Mendes. Uma frase: “Não dá para fazer política sem botar a mão na merda”, dita após uma reunião de apoio de artistas à candidatura de Lula, na casa do ministro da Cultura, Gilberto Gil, no Rio, colocou-o no paredão. Nesta entrevista a ISTOÉ, ele explica melhor o que quis dizer com seu epitáfio escatológico.

ISTOÉ – Em que circunstâncias o sr. disse a frase polêmica?
Paulo Betti –
Tive a inocência de tentar explicar o que me parece uma verdade incômoda: os erros que o PT cometeu não são inaugurais. Caixa 2, financiamento irregular de campanha, aliciamento de deputados para formar maioria, tudo isso sempre existiu. Fiz uma constatação quando disse que no Brasil não se faz campanha sem sujar as mãos. O que seria um diagnóstico foi utilizado para me estigmatizarem como pregador do fim da ética.

ISTOÉ – Mas justifica?
Betti –
As revelações das irregularidades foram uma tragédia para eleitores e filiados do PT. Claro que eu não esperava nada disso.

ISTOÉ – O apoio ao presidente Lula é incondicional?
Betti
– Incondicional só o amor de mãe. Apoio incondicional não existe, exceto quando se vota cego pela paixão política.

ISTOÉ – Mas o sr. votou nele…
Betti –
Votei porque achava importante que um representante do povo chegasse à Presidência.

ISTOÉ – Votará de novo?
Betti –
Sim. Acredito que, com um segundo mandato, ele poderá fazer um governo melhor. Não é voto incondicional, mas condicionado a esta esperança.

ISTOÉ – Como o sr. responde ao cantor Fagner e ao novelista Agnaldo Silva que afirmaram que quem vota em Lula é conivente com os desmandos?
Betti –
É a opinião deles. Tenho uma trajetória e só me permito dizer que apoiar Lula não é conivência com desmandos de ninguém. A não ser que, observando os altos índices de preferência eleitoral que ele tem, resolvamos dizer que o povo não sabe votar e até que o povo é amoral.

ISTOÉ – O Pelé pagou caro por essa…
Betti –
Hoje até me pergunto em que contexto ele teria dito aquela frase que tanto mal lhe causou. Depois disso, serei mais cuidadoso em averiguar o contexto de declarações publicadas.

ISTOÉ – O que essa polêmica causou à sua imagem?
Betti –
Custou-me a indignação com a hipocrisia, com o desvio ético da manipulação de uma frase por interesse político-eleitoral. Quanto à minha imagem, espero que não custe nada. Espero continuar sendo julgado pela qualidade de meu trabalho.

ISTOÉ – O músico Wagner Tiso, ao dizer que não está preocupado com a ética do PT, não aumentou a polêmica?
Betti –
Quem conhece Wagner Tiso, a grandeza de sua música e a generosidade de sua pessoa, sabe que declarações impacientes diante da artilharia dos repórteres não justificam um apedrejamento moral.

ISTOÉ – Polêmicas à parte, os artistas estão escaldados com a política?
Betti –
É claro que a política desencantou muita gente, e não falo apenas do PT. No escândalo dos sanguessugas, quase todos os partidos estão envolvidos. Por outro lado, a democracia já está bastante madura, dispensa intermediários. Os eleitores estão fazendo suas escolhas sem levar em conta os formadores de opinião, sejam eles artistas ou não. E isso é bom.