05/02/2010 - 21:00
METAMORFOSE
Benicio Del Toro, irreconhecível em “O Lobisomem”,
Primeiro foram as múmias que se livraram da poeira. Mais recentemente, os vampiros afiaram os caninos. Agora, quem se prepara para fazer o seu uivo ecoar no escuro dos cinemas é o lobisomem, aquela criatura que, segundo lendas e folclores, tem corpo de homem e traços de lobo e é muito sensível à influência da lua cheia. A volta desses populares monstros às telas inicia-se justamente com o clássico do horror “O Lobisomem”, refilmagem de uma obra dos anos 1940, com estreia prevista no Brasil para a sexta-feira 12. Quem encarna o homem-lobo é Benicio Del Toro, que muita gente acha que nem precisava passar tantas horas nas mãos de maquiadores para viver de forma convincente o papel. Orçado em US$ 85 milhões, o blockbuster ocupa a pole position de uma corrida ao gênero que tem mobilizado tanto as grandes companhias cinematográficas quanto os estúdios de televisão. Além de refilmagens de títulos bem-sucedidos como “Um Lobisomem Americano em Londres”, estão sendo anunciadas também diversas séries tendo a criatura peluda como protagonista – mesmo nos enredos em que a personagem é imberbe antes de se metamorfosear, caso de “Teen Wolf”, que mostra um garoto que usa poderes do animal para vencer no basquete e conquistar as amigas da escola. Essa é mesmo a hora dos lobisomens. Numa entrevista ao jornal inglês “The Independent”, o escritor britânico Brad Steiger, autor de “O Livro dos Lobisomens”, qualificou a nova onda como natural e até esperada:
David Naughton em “Um Lobisomem Americano em Londres”
“Quando os vampiros ficam populares, os lobisomens logo aparecem. No cinema, eles andam juntos como cavalo e carruagem.” Fanáticos por histórias do gênero costumam lembrar da trilogia “Underworld”, que mostra justamente por que essas duas linhagens do mal ocupam territórios vizinhos: os sujos homens-lobos seriam rivais dos elegantes mortos-vivos e viveriam sob um pacto que a qualquer momento pode ser rompido. É o que acontece em “Lua Nova” que deu o sinal para a largada do novo filão: nos momentos de fúria a turma do galã Jacob Black (Taylor Lautner), rival do vampiro Edward Cullen, vira uma perigosa matilha. O jornalista Gonçalo Jr., autor da “Enciclopédia dos Monstros”, tem uma teoria interessante: ele acha que os diversos ciclos do horror estão sempre ligados a uma conquista tecnológica. A chegada do som nos anos 1930, por exemplo, deu origem a uma safra da qual fazem parte os títulos da Universal, entre eles “O Lobisomem” original, com Lon Chaney Jr. Outra retomada se deu nos anos 1950, com o uso da cor que passa a valorizar a textura do sangue e dos olhares possessos. Veio depois a revolução da maquiagem, nos anos 1970, e, mais recentemente, a revolução digital. “A computação gráfica propicia a recriação dessas histórias com um realismo impressionante”, diz o pesquisador. Um dos apelos dos filmes de lobisomem reside exatamente no processo de transformação do homem em animal. Para não prejudicar a atuação de Del Toro, o diretor Joe Johnston decidiu usar uma mescla de maquiagem e efeitos digitais. Os truques estão presentes, por exemplo, quando a criatura se movimenta em sua ronda noturna. Como tem de usar patas caninas nessas cenas, o ator foi dependurado em cabos de aço que lhe possibilitaram deslizar sobre o solo.
Na modernização da história, o protagonista Lawrence Talbot (Del Toro) é um ator teatral de sucesso, que retorna dos EUA à cidadezinha de Blackmoor, na Inglaterra, para ajudar a cunhada a encontrar o irmão desaparecido. É quando descobre que as pessoas do lugar estão sendo atacadas por um animal de grande porte. Mordido pelo bicho, passa a sofrer transformações em noites de lua cheia – mas não se lembra exatamente do que faz. Esse é um dos traços que diferenciam, nas produções de Hollywood, lobisomens de vampiros: os primeiros são movidos pelo instinto, não pelo desejo. Para reforçar a maldição, Talbot apaixona-se pelo cunhada (Emily Blunt) e entra em conflito com o pai (Anthony Hopkins), que não via desde a infância. No original, a ação se passa em 1941. Dessa vez, preferiu-se ambientar o enredo na época vitoriana, no século XIX, uma opção meramente visual. Segundo o diretor, a luz de lampiões ajuda no clima mais adequado ao terror. A maior dificuldade, contudo, foi criar um uivo que ressoasse com impacto em dolby stereo. Testou-se de tudo: choro de criança, sons gerados por computador e até os gritos esganiçados de roqueiros como David Lee Roth, do extinto Van Halen, e Gene Simmons, o linguarudo do Kiss. O grito mais dramático foi fornecido por um barítono de Los Angeles, cujo nome não foi divulgado: ele viraria alvo de piadas das primadonas do canto lírico.