Na segunda-feira 4, a cotação nominal do barril de petróleo cru negociado em Nova York ultrapassou pela primeira vez na história a barreira dos US$ 58. Apesar de o valor não ter se mantido – fechou na quinta-feira 7 a US$ 54 –, o fato de o preço permanecer em um patamar alto acendeu a luz de alerta na economia mundial. Há um ano, o mesmo barril era cotado na casa dos US$ 30, ou seja, nesse período subiu 80%. Até o final deste ano, analistas do setor prevêem que a alta acumulada deve ser de 43%. Em uma sociedade cujo sistema de produção é visceralmente ligado à matriz energética gerada pelo ouro negro, petróleo caro significa inflação alta e, consequentemente, crescimento econômico menor.

O economista Fernando Blumenschein, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), calcula que um reajuste de 10% no preço do barril por um ano reduz em até 0,7% o produto do crescimento econômico. Além desse impacto na economia mundial, que acabará reduzindo a demanda internacional pelas exportações do Brasil, a alta do petróleo atinge a economia brasileira em um de seus pontos mais nevrálgicos: a inflação. Um aumento do preço dos derivados do petróleo pode prejudicar todo o esforço do governo Lula para manter o índice sob controle. Por enquanto, a Petrobras tem quebrado o galho, segurando o preço dos combustíveis. Apesar de polêmica, a política de represar os preços vai continuar. Na terça-feira 5, José Eduardo Dutra, presidente da estatal, descartou possíveis aumentos na gasolina e no diesel.

Cálculos feitos pelo mercado apontam uma defasagem entre os preços no mercado doméstico e internacional de 16% na gasolina e de 19% no diesel. “A política de preços da Petrobras não tem nenhuma lógica com o mercado internacional”, afirma Adriano Pires, especialista em petróleo do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE). Ele lembra que a Petrobras vem acumulando perdas de R$ 2 bilhões desde 2003. “A elevação no preço do barril é persistente o suficiente para um aumento dos preços. Essa demora fere a racionalidade econômica”, alerta Blumenschein. De fato, com a previsão do BC de uma inflação de 5,1% para 2005, qualquer reajuste dos combustíveis torna a meta impraticável. O coordenador de análises econômicas da FGV, Salomão Quadros, avalia que o efeito não deve ser tão grande assim. No último reajuste dos combustíveis, em novembro de 2004, diz ele, o impacto na inflação foi de apenas 0,2%. Ainda assim, a preocupação é grande. O Comitê de Política Monetária, mesmo não contando com surpresas em 2005, já deu o alerta em sua última ata: “A alta no preço do barril passou a representar um risco maior para a trajetória futura da inflação.”

Mas o que explica essa explosão no preço do barril? Segundo os especialistas, é a velha lei da oferta e da demanda, potencializada por fatores sazonais e pela tradicional instabilidade do mercado de petróleo. Desde 1999, a procura pelo óleo cresceu de maneira intensa, puxada pelo crescimento do consumo na China, na India e nos Estados Unidos, levando a demanda para uma proximidade perigosa do limite de produção (oferta) e gerando um temor de desabastecimento. No ano passado, a oferta foi somente 1% maior do que a demanda. Além disso, as principais reservas de petróleo estão nas mãos de empresas controladas por governos, mais afeitos a decisões políticas. A notícia de que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) irá aumentar sua produção diária em meros 500 mil barris soou inócua aos ouvidos de um mundo cada vez mais voraz pelo ouro negro e fez disparar o risco petróleo.