Os poderosos cardeais da ala moderada petista iniciam, no sábado 9, seu primeiro conclave para decidir os rumos de uma reforma que vai ficar na história. O objetivo é atualizar o programa do PT aprovado no Encontro Nacional do Recife, em 2001, quando o partido ainda rezava pela cartilha da oposição de esquerda. A missão é adequar a encíclica petista à nova realidade: a do governo Lula. Na fogueira da inquisição dos moderados estão sendo lançados velhos dogmas, como a idéia de um “Estado pai”, todo-poderoso. Mesmo destino terão ruidosas palavras de ordem histórica dos esquerdistas, como “Fora o FMI”. Essas e outras idéias constam do atual programa, intitulado “A Ruptura Necessária”, que será substituído por outro durante o 13º Encontro Nacional do partido, em dezembro. Chama-se “Bases de um Projeto para o Brasil” o embrião do programa dos moderados, feito com a colaboração dos principais integrantes do governo Lula, como os ministros Antônio Palocci (Fazenda) e José Dirceu (Casa Civil). Eles afirmam que não têm dogmas e, por isso, não temem mudar, mas ainda revelam sua fé no que chamam de socialismo democrático e se autoconclamam representantes de uma esquerda contemporânea.

A perestróika (reconstrução) petista provoca também uma descoloração: as bandeiras vermelhas hoje já surgem brancas, como na sessão solene para festejar os 25 anos do PT (completados em 10 de fevereiro), realizada na Câmara, na terça-feira 5. A reforma acontece no ano que antecede a eleição presidencial. Com um programa atualizado, o presidente Lula não terá que responder, na campanha, a eventuais contradições entre as ações de seu governo com as pregações do documento que orienta os fiéis de seu partido. A nova cartilha incorpora os pressupostos da política econômica do governo, criticada pelos xiitas. Assim, o ajuste fiscal, por exemplo, deixa de ser um demônio. É tido como um instrumento necessário para que o País crie condições para gerar o tão sonhado desenvolvimento sustentado, a distribuição de renda e a criação dos empregos. A reforma do programa petista passa também por uma nova visão do Estado, nem salvador da pátria – na visão tradicional da esquerda –, nem vilão, como pregam os adeptos dos preceitos neoliberais.

Os moderados pregam um Estado indutor da economia, que faz a intermediação com o setor privado. E defendem as contratações de funcionários para equipar a máquina governamental como forma de torná-la mais eficiente. Mas a ala light do PT não quer apresentar um programa que apenas chancele as ações do governo Lula. Irá cobrar antigas promessas, como a realização de uma ampla reforma agrária e a diminuição da carga tributária que assola o setor produtivo. É claro que os moderados vão ouvir muitos gritos de protesto dos radicais, mas esses são minoria na direção nacional (33%) e por isso não têm fôlego para aprovar o seu programa no embate marcado para o final do ano. Mas antes disso, em setembro, as diferentes alas vão medir forças durante as eleições diretas (nas quais poderão votar os 800 mil filiados), que vão renovar as direções do partido, nos âmbitos nacional, estadual e municipal. O atual presidente, José Genoino, deverá ser candidato à reeleição e a esquerda promete colocar no ringue o dirigente Valter Pomar, da maior corrente radical, a Articulação de Esquerda.