Morto um papa, elege-se um outro, diz o ditado italiano. João Paulo II se foi, mas a história da Igreja Católica continua. Na semana do funeral de João Paulo II, os cardeais surpreenderam os vaticanistas veteranos ao dar tantas declarações à imprensa. Isso nunca havia acontecido antes. Com tantas vozes diferentes falando ao mesmo tempo, foi difícil entender o que eles querem para o futuro da Igreja, quais são seus objetivos prioritários e que tipo de papa preferem. O problema é que talvez muitos deles ainda não tenham respostas a estas questões.

Os bookmakers abrem as apostas e a mídia tenta traçar um perfil do próximo papa. O santo homem deve saber se comunicar e de preferência ser um poliglota, dizem os analistas. Sob esse prisma, o papável mais cotado, Dionigi Tettamanzi, perderia pontos, pois, embora intelectual, é monoglota e não viaja muito para fora da Itália. Muitos outros não brilham perante as câmeras, mas provavelmente o próximo pontífice não será tão escravo da mídia como João Paulo II, cujo esplendor físico dos primeiros anos contrastava com a lenta e inexorável degeneração corpórea da última década. O nigeriano Francis Arinze, afável e bem-relacionado, tem um bom perfil midiático, mas o peso da África dentro da Igreja Católica leva à conclusão que um papa deste continente seria quase impossível.

Além das superficialidades, muitos analistas tentam desenhar um perfil político, “conservador” ou “progressista”, do próximo papa – embora esses conceitos tenham perdido um pouco o sentido depois da razzia que Karol Wojtyla promoveu contra a Teologia da Libertação e os liberais da Igreja Católica. De qualquer forma, entre os que priorizariam a manutenção do status quo legado por João Paulo II estariam o alemão Joseph Ratzinger, presidente da Congregação para a Doutrina da Fé, ou Camillo Ruini, vigário de Roma. Já os defensores das reformas abertas ao mundo moderno, na linha do Concílio Vaticano II, encontram seus expoentes em prelados como o belga Godfried Danneels e os alemães Walter Kasper ou Karl Lehmann. Mas, por polarizarem a Igreja, “conservadores” e “progressistas” têm poucas chances de eleger um papa, embora sejam considerados grandes eleitores.

Outro dado decisivo no conclave é a questão econômico-financeira da Santa Sé. Os cardeais eleitores provêm de 52 países, mas os alemães e os americanos deverão ter um peso influente, porque as respectivas igrejas são as que mais contribuem financeiramente para o Vaticano. Mesmo assim, isso não significa que o próximo papa será alemão, muito menos americano – estes últimos teriam pouquíssimas chances, principalmente depois dos escândalos sexuais.

A demografia do rebanho católico também pode ser um dado fundamental. A Igreja Católica sabe que precisa preservar um rebanho que já está com cabeças contadas e restritas, evitando que eles caiam na tentação de que a grama do vizinho seja mais verde. Na América Latina, onde estão metade dos católicos do mundo, cresce o desafio das igrejas evangélicas pentecostais. Neste caso, as chances de um papa latino-americano, como dom Cláudio Hummes, são bastante grandes.